A recente crise do gás na Europa e aparentemente resolvida com um acordo selado entre a Rússia e a Comunidade Europeia deverá despoletar campainhas de alarme e servir para apontar soluções para o problema energético europeu. A Europa enquanto unidade política e política num quadro geoestratégico mundial não poderá ser refém de uns quantos tubos de gás transcontinentais. Esta inexplicável submissão só pode ser decifrada por obscuros poderes económicos que não hesitam em comprometer a independência económica do continente, hoje quase nação, ou pelo menos a caminho de uma ideia federativa, aos seus próprios proveitos.
Impressiona pois que a dependência energética da Europa não seja equacionada em termos de estratégia política global. Salvo erro, foi Einstein que disse não saber como seria a próxima guerra nuclear mas que saberia como seria a seguinte depois: com paus e pedras. Todos descortinamos que a questão energética e a dos recursos da água estarão na origem de conflitos próximos a uma escala global mas desconhecemos a sua violência. Não é preciso ser grande estratega para saber que uma resposta positiva a estas questões será decisiva para a nossa sobrevivência, não como nações europeias, mas até como estrutura continental e fazer prevalecer a cultura que fizemos evoluir e que tanto trabalho deu aos nossos antepassados. Por isso, também não é preciso ser bruxo para adivinhar que uma próxima guerra intercontinental se mova pelas lutas no acesso à energia ou à água.
Não se sabe ainda, pois investimos pouco nisso, qual a energia que poderá substituir a actual energia fóssil. Todas as soluções existentes ainda acumulam energia a partir de fontes primárias também fósseis, o que as torna menos competitivas.
O Ocidente, e a Europa em particular, deviam investir todos os seus esforços na procura de soluções que lhe permitam liderar o mercado baseado na inovação, como aliás sempre o fez, e não ter a falsa ideia de liderança apenas porque paga o preço que lhe pedem pela energia.
António Granjeia*
*director