O novo telheiro do Parque das Cales, em Malhapão, já está de pé. Mas mesmo ao lado está uma Caleira que aguarda recuperação desde 2005, ano em que se iniciaram os trabalhos de construção do Parque. Hélder Novo, funcionário da Junta de Freguesia de Oiã, garantiu na altura que o que originou a destruição parcial daquele aqueduto foi a queda acidental de um choupo de grande porte. "Aproveitou-se a máquina giratória que estava a abrir o lago e o poço para empurrar as árvores. Mas uma delas girou sobre si própria, levando a que se perdesse o controlo sobre a giratória e o choupo caiu em cima da Caleira", explicou o funcionário. Esta versão é, no entanto, contrariada pelo presidente da Junta de Oiã, que afirmou recentemente a JB que as causas foram naturais. "Foi um ano de muita chuva, que teve efeitos negativos sobre a Caleira, cuja estrutura está feita com adobe", disse Dinis Bartolomeu. Sendo a Junta já "praticamente proprietária do aqueduto", o autarca garante que a sua recuperação está nos planos da autarquia local e aponta 2009 como possível prazo para a mesma. Dinis Bartolomeu admite solicitar à Câmara Municipal de Oliveira do Bairro um apoio financeiro para a sua reconstrução, que "poderá ascender a cerca de 10 mil euros". O autarca Mário João Oliveira afirmou a JB não ter, "até ao dia de hoje, recebido qualquer solicitação dos co-proprietários da Caleira para essa recuperação", mas quando isso acontecer, "a Câmara estará disponível para colaborar, no interesse da valorização daquilo que é considerado histórico". Depois da recuperação, "a divulgação daquele património será o passo seguinte", acrescenta. Um dos documentos com registo da existência da caleira, e a que o JB teve acesso, data de 1858. A escritura de cedência do espaço dessas águas diz tratar-se de uma caleira "de datas imemoráveis". Vítor Pereira mora na Feiteira mas tem origens em Malhapão. No entanto, é como interessado na preservação do património concelhio que fala a JB. Lamenta que "ninguém queira dar a cara, por represálias ou desinteresse", mas afiança que todos partilham da sua opinião, que "a cultura patrimonial desde lugar e do concelho é pobre" e que o que existe deveria ser preservado. Em 2005, meses antes das autárquicas, o ex-presidente da Câmara, Acílio Gala, garantira a Vítor Pereira que "uma das prioridades da Câmara Municipal, em termos de preservação do património, seria a recuperação da Caleira". Preocupação que este cidadão espera que se estenda ao actual Executivo. A reconstrução não deve, todavia, ser feita de qualquer maneira, alerta Carlos Conceição. O historiador frisa que será essencial "contactar especialistas em patologia e reabilitação das construções", que podem, por exemplo, ser encontrados no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Aveiro. Vítor Pereira considera a Caleira "uma mais-valia para o lugar de Malhapão, para o concelho e um marco histórico dos nossos antepassados". "Penso que seria importante, em primeiro lugar, recuperá-la esteticamente. Depois", sugere, "podia fazer-se com que as águas da nascente da presa superior do Parque das Cales, assim como as da Fonte que lá fizeram chegar, fizessem o seu percurso por esta Caleira, vindo parar à vala do Rio Novo, como antigamente, tornando-se este espaço numa atracção turística". Uma ideia que não encontra concordância por parte do autarca Dinis Bartolomeu, para quem só faz sentido a recuperação da Caleira, "que é sem dúvida um património histórico". Oriana Pataco oriana@jb.pt Diário de Aveiro |