SECTOR REALMENTE ESTRATÉGICO

O problema das pescas, para além de afectar o sector, lesa o imaginário português como País de marinheiros e pescadores.

Todos, nestas terras cercanas da maresia, lembramos ou conhecemos as histórias glorificadas ou dolorosas dos homens do mar. Vem-me à memória a grande odisseia do bacalhau, o conhecimento que travei com alguns capitães, pescadores e maquinistas dessa faina. Lembro-me das "companhas" estivais nas praias aqui bem perto e da venda de peixe fresco.

É, pois, com tristeza que venho assistindo à delapidação de um sector que deveria ser estratégico para o desenvolvimento nacional. Que me pareça não será na caça dos gambozinos, na cultura da banana ou no pastoreio de camelos que nos safamos. Foi com a audácia dos mais destemidos, com a têmpera dos mais fortes, com a inovação dos mais imaginativos e com a gestão dos mais capazes que construímos uma armada de pesca quase imbatível a nível mundial. Os sucessivos governos, depois do 25 de Abril, foram permitindo que ela se degradasse em nome de interesses que os portugueses nunca compreenderam. Ainda hoje o sabemos fazer como mostram os poucos barcos que ainda nos deixam construir e que são dos mais evoluídos. Esta é a verdade, uma verdade que garantia mais lucro a quem abatia barcos do que a quem pescava e produzia.

Devemos exigir do governo que o sector seja realmente estratégico e não apenas importante para a economia e que os portugueses possam ter o mesmo tipo de ajudas que os pescadores franceses. Ao contrário, disse o secretário de estado das pescas que governa num País onde desconhece os apoios dados nas regiões autónomas, ninguém acredita que o governo francês vá alguma vez devolver o dinheiro que atribuiu às pescas. Já vimos este filme aquando do défice alemão acima da quota permitida. Está na altura de nos batermos como iguais e não como europeus de segunda.

António Granjeia*
*Director

Diário de Aveiro



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