OS BARCOS FORAM QUARTA-FEIRA OBRIGADOS A DESCARREGAR NOUTROS PORTOS |
---|
| |
Os comerciantes da lota de Aveiro decidiram ontem suspender o boicote à venda do pescado até segunda-feira, esperando que haja um recuo na aplicação de um aumento de mais dois por cento na taxa de comprador.
Os comerciantes da lota de Aveiro impediram quarta-feira à noite, pelo segundo dia consecutivo, a venda do pescado em protesto contra o aumento da taxa, que começou a ser aplicada em 12 de Maio pela Docapesca.
Esta manhã, comerciantes e armadores reuniram com membros da Docapesca para tentar chegar a um acordo.
Com o boicote, os barcos foram quarta-feira obrigados a descarregar noutros portos, designadamente Figueira da Foz e Matosinhos.
Em declarações à Lusa, Isabel Branco, comerciante há mais de 30 anos naquela lota, afirmou que "até segunda-feira fica tudo na mesma, vai tudo funcionar normalmente".
"Vai um representante dos comerciantes a Lisboa, segunda-feira, para participar numa reunião no Ministério da Agricultura", adiantou, acrescentando que os comerciantes não podem aceitar um aumento de mais dois por cento.
Isabel Branco adiantou que este aumento da taxa prejudica os pescadores, que vêem o seu peixe ser comprado por um preço mais baixo, ou os consumidores, que terão que comprar o peixe a um preço bem mais elevado.
"Com este aumento, em 4.000 euros/dia eu tenho que pagar mais 80 euros e é muito dinheiro", lamentou.
O presidente da Associação de Armadores de Pesca Industrial (ADAPI), António Miguel Cunha, afirmou à Lusa que o que ficou hoje acordado em reunião foi que os comerciantes "voltam às bancas para comprar o peixe" e que, "se houver alguma crise, avisarão com 24 horas de antecedência".
Lamentando que "os armadores sejam afectados com esta situação, que não lhes diz respeito", o responsável frisou que o facto dos barcos terem parado terça-feira em Aveiro sem descarregar o pescado provocou "prejuízos avultados".
"Cerca de 25 toneladas de peixe só foram vendidas no dia seguinte, noutras lotas", disse.
Na opinião de António Miguel Cunha, "o aumento desta taxa por parte do Ministério da Agricultura é um absurdo".
"Sem a aplicação de medidas de fundo, este aumento não faz sentido", disse, considerando que o Governo deveria "redimensionar o número de lotas", permitindo aumentar a oferta de peixe e a procura do pescado, e apertar o controlo ao comércio de peixe fresco.
"Estimamos que 43 milhões de euros fogem do circuito normal" da venda do peixe, disse.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Pesca do Norte, António Macedo, lamentou que este aumento tenha sido aplicado sem que tenha havido um diálogo com representantes do sector.
Para Macedo, que duvida que os comerciantes consigam encontrar-se com o ministro da Agricultura para chegar a acordo, esta situação "pode descambar para outras lotas".
A Lusa tentou obter mais esclarecimentos junto da Docapesca, mas tal não foi possível até ao momento.
Em comunicado enviado quarta-feira, a Docapesca garante que "entre a publicação da portaria e a sua entrada em vigor (12 de Maio) decorreu um período de 34 dias, durante os quais todos os utilizadores de Lotas e Postos de vendagem puderam verificar e ser informados sobre esta alteração".
"A recente decisão do Governo, em consonância com o sector da pesca, de manter e reestruturar a Docapesca é uma decisão vital para a prossecução e melhoria das boas práticas do mercado de primeira venda de pescado no país", concluiu. Diário de Aveiro |
|
|
|