TODA A FRENTE RIBEIRINHA ESTÁ A FICAR SEM APTIDÃO AGRÍCOLA

O presidente da Câmara de Estarreja, José Eduardo Matos, visitou hoje os campos do Baixo Vouga, invadidos pela água salgada, para alertar a urgência da conclusão do dique já iniciado.

“Toda a frente ribeirinha está a ficar sem aptidão agrícola devido à salinização dos terrenos”, afirmou o autarca, frisando que a construção do dique parou a meio.

“Esta obra só faz sentido se for toda feita. É como começar a fazer uma barragem e parar a meio do rio: a água passa pelo outro lado”, disse à Lusa.

José Eduardo Matos salientou a capacidade de produção agrícola do Baixo Vouga e a sua importância ambiental, já reconhecida.

“Para a sua preservação é fundamental a conclusão do dique, construído apenas no seu troço médio, numa extensão de quatro quilómetros”, acrescentou.

“Não fazer o que falta é destruir o que está feito, pelo que a obra tem de avançar, mas não vemos passos nesse sentido”, disse ainda o autarca.

O presidente da Câmara de Estarreja, liderada por uma coligação PSD/CDS-PP, lamentou também que as atenções do Ministério da Agricultura se focalizem apenas no Alqueva, em termos nacionais, e na Cova da Beira e Baixo Mondego, em termos regionais, ignorando o investimento já feito no Baixo Vouga.

Para José Eduardo Matos, a mudança da Direcção Regional de Agricultura para Castelo Branco fez com que os problemas do Baixo Vouga ficassem ainda mais esquecidos.

Afirma também “não compreender” que o Gabinete do Baixo Vouga esteja a ser desactivado.

“O dique começou a ser construído para separar a água salgada da água doce, com o objectivo de proteger os campos da salinização, um problema que já na altura existia”, referiu.

Hoje, sustenta, a obra é ainda mais importante e urgente, devido à maior amplitude de marés provocada pelas obras realizadas na expansão do Porto de Aveiro.

O presidente da Câmara de Estarreja, município que tem a maior área no perímetro do projecto de aproveitamento agrícola do Baixo Vouga, não está isolado nas preocupações.

Juntamente com José Eduardo Matos e em concertação com a Associação dos Agricultores Beneficiários do Baixo Vouga, os presidentes das câmaras de Aveiro, Élio Maia (do movimento Juntos por Aveiro), e de Albergaria, o social-democrata João Agostinho, entregaram dia 03 ao governador civil do distrito, Filipe Neto Brandão, um dossiê para defender o reinício do projecto.

Dirigiram ainda uma exposição aos ministros da Agricultura, Jaime Silva, e do Ambiente, Francisco Nunes Correia, em que advertem que “a não conclusão das infra-estruturas previstas poderá pôr em risco ou tornar inúteis uma série de elevados investimentos já realizados”.

Os três municípios do Baixo Vouga defendem a classificação da iniciativa como Projecto de Interesse Nacional(PIN), dado que - sustentam os seus presidentes - “contempla a defesa e conservação de três mil hectares de solos agrícolas, contribuindo para impedir o sucessivo abandono de terrenos extremamente férteis”.

“Enquanto o projecto não avança, vai-se assistindo à constante degradação da área, resultante da invasão da água salgada”, afirmam.

Sustentam também que o Baixo Vouga Lagunar é uma zona de grande valor agrícola e ambiental da qual depende um grande número de agricultores e famílias (cerca de 4.000 explorações agrícolas).

“Aí podem-se encontrar importantes ecossistemas que são suporte de várias espécies, algumas das quais protegidas, integrando a Rede Natura 2000 - Zona de Protecção Especial da Ria de Aveiro”, salientam os autarcas na exposição enviada ao Governo.

Diário de Aveiro


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