SÓCRATES NÃO TEVE UMA PALAVRA PARA OS LISBOETAS

Esperei pela entrevista do primeiro-ministro para escrever este editorial.

Sócrates esteve na generalidade bem, mostrando dominar os assuntos que aceitou debater, exibindo autoconfiança nas suas políticas e muito à-vontade na prestação televisiva. Sócrates afirma-se reformador mas só o tempo nos dirá da eficácia das suas reformas.

Parece óbvio que começou a campanha eleitoral tendo disso dados vários sinais durante a entrevista. Também parece evidente que está muito melhor preparado que os potenciais concorrentes da oposição. Leva vantagem no início desta campanha mas, na minha opinião, vive num país que imagina muito melhor do que aquele em que os seus cidadãos habitam.

Exemplificando: afiançou ter criado 94000 empregos, quando na realidade perdemos 20274 postos de trabalho (ver JB nº 1931, 16/01) e onde o desemprego atinge os 8%. Esqueceu-se do crescente e preocupante número de portugueses que emigram para fugir à miséria que advinham. Controlou o défice (- de 3%) sobretudo à custa da receita fiscal, espremendo os contribuintes que pagam impostos (empresas, classe média e baixa) sem reduzir a inquietante despesa do monstro Estado. Na saúde prometeu criar 5000 camas para cuidados continuados, mas não nos disse, que cada cama dessas custa, no mínimo 500 euros mensais, aos idosos de Portugal. Não sei em que classe de idosos está ele a pensar.

Infelizmente não falou da Reforma da Administração Pública e da Justiça. Talvez tenha sido propositado, mas foi pena. A justiça funciona mal, mais por desorganização dos serviços do que por ineficácia dos funcionários. Não entendo pois, como se pode afirmar que os contribuintes têm hipótese de defesa nos tribunais perante os abusos do fisco.

Como nota triste fica o facto de Sócrates não ter tido uma palavra para os lisboetas atingidos pelas cheias a impossível defesa do ministro do ambiente por ter culpado as câmaras municipais das inundações.

Não queria terminar este editorial sem antes lembrar que comemoramos nesta edição mais um aniversário do JB, o 57º. Estamos mais velhos, mas também mais maduros, experientes e confiantes.

Continuaremos firmes em cumprir os propósitos fundadores de um projecto que foi um desígnio de bairradinos empreendedores em prol da sua terra, mas também um projecto empresarial que tem tido grande sucesso. O espírito inovador e de risco continua a fazer deste desígnio uma marca de afirmação no mundo dos jornais, que eleva bem alto o nome da nossa amada região, a Bairrada.

António Granjeia*
*Director do Jornal da Bairrada

Diário de Aveiro



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