O MINISTRO LIGOU-ME PARA O TELEMÓVEL ÀS 21H13

Litério Marques diz-se ameaçado pelo ministro da Saúde. Em causa está um contacto telefónico, realizado pelo gabinete de Correia de Campos, no passado sábado, dia de vigília, contacto este que, segundo o autarca, teve intenção de o ameaçar.

"O ministro ligou-me para o telemóvel às 21h13, só que, devido ao barulho da vigília, não o ouvi. Depois, ligou para minha casa e disse à minha esposa que queria falar comigo", explicou o autarca aos jornalistas. Litério Marques afirmou ainda que o ministro acabaria por falar com a sua filha e, julgando que ela teria "contactos mais privilegiados" para falar com o pai, deixou-lhe a indicação de que precisava de lhe falar "imediatamente".

O edil anadiense considera que este tipo de comportamentos "não são admissíveis" a um membro do Governo e confessa que, em dez anos à frente dos destinos da autarquia, "nunca nenhum membro do Governo teve esta atitude para comigo".

O autarca só viria a falar com o ministro mais tarde, pois, assim como não ouvira a chamada de Correia de Campos, também não ouviu a da filha. "Eram 21h19 quando ela me ligou e, embora tenha tentado, por todos os meios, só conseguiu fazê-lo através do vereador Jorge São José", que avisou Litério Marques da urgência do contacto.

O presidente da Câmara de Anadia disse ainda que, assim que contactou a filha, de imediato ligou para o telemóvel do ministro (que tinha registado no seu telemóvel como chamada não atendida), eram 21h33.

Ameaças. Um telefonema que o edil admite não ter sido, de todo, agradável e que o leva agora a denunciar o que considera ser "uma ameaça" e uma "atitude indigna" de um membro do Governo: "qual não foi o meu espanto quando dou de caras com uma ameaça. Disse-me claramente - [o senhor está notificado por mim, responsabilizo-o, pessoalmente, por todas as agressões à ambulância e pessoal do INEM [reportando-se ao incidente que ocorrera na vigília]. O senhor, enquanto presidente da Câmara e da Protecção Civil do concelho, é o responsável máximo, e já dei indicações ao Governo Civil e às autoridades para o responsabilizarem pelo que aconteceu ou venha a acontecer," recordou.

Litério Marques garante que ainda tentou explicar que não tinha sucedido nada de grave na vigília e que ninguém tinha agredido os tripulantes da ambulância, nem sequer o veículo, até porque, frisou, "o povo de Anadia é pacífico".

"Disse-lhe ainda que, se aquele telefonema era para me silenciar, fazia mal, já que nunca me calaria e que achava que ele (ministro) deveria vir cá para sanar uma situação que ele próprio criou".

Argumentos que não terão convencido Correia de Campos, já que, segundo o edil, o ministro ter-lhe-á dito que nada mais havia a falar "e desligou".

Convite. Sentido com o sucedido, Litério Marques admite tratar-se de "uma situação muito desagradável, primeiro porque incomodou a minha família e, segundo, porque é inadmissível que se tentem calar as vozes incómodas".

A seu ver, Correia de Campos deveria sim preocupar-se em saber como morreu aquela criança "tendo um serviço encerrado por ele, ali ao lado, e que a poderia ter socorrido com intervalo de tempo inferior à deslocação da VMER a Anadia", assim como, "em vez de se refugiar e fugir ao contacto com as populações e autarquias, deveria dialogar, o que nunca fez". A terminar deixaria um convite: "gostava que ele, enquanto ministro, viesse a Anadia, visse e constatasse que o serviço de Urgências não pode continuar encerrado".

C.C.
Diário de Aveiro



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