A chamada realpolitik foi afirmada na sua pior e mais hipócrita forma pelo nosso MNE, Luis Amado. A pretexto da visita do Dalai Lama, o Governo de Portugal preferiu, pela voz do Sr. Ministro, justificar o não recebimento oficial com um lacónico "Como é óbvio, não o recebo!".
Eu sei que diplomacia se joga em tabuleiros muito complexos e que sempre se moveu nos mais tortuosos caminhos que a história conheceu. Eu sei que a diplomacia releva as mais complicadas estratégias e suporta os mais insondáveis interesses, usando sempre um registo baixo para não ser notada. É assim que se conseguem vantagens e alguns tratados ou acordos são assinados.
"As relações com a China são relações importantes para Portugal, mas não há nenhuma pressão do governo chinês que pudesse alterar a posição do governo português, assumida no quadro das boas relações que temos com a China", esclareceu o ministro. Na tradução normal desta linguagem diplomática, significa simplesmente que o Governo Chinês fez chegar uns recaditos na mala diplomática e que o MNE achou por bem lê-los com mais atenção.
Ou se recebe com a dignidade suficiente tão importante personagem, ou não se recebe. Estar bem com Deus e com o Diabo é difícil para qualquer mortal quanto mais para o melhor diplomata do mundo. Há alturas em que é preciso colocar as questões essenciais, os princípios, os valores e os direitos humanos antes de qualquer interesse económico.
A China representa hoje ao mesmo tempo o capitalismo mais selvagem e desumano do Globo como mantém uma grande parte dos seus cidadãos debaixo de uma ditadura comunista, desumana e feroz.
E Portugal deixa-se enredar nesta arte diplomática?
A Chanceler Alemã achou o contrário e teve a coragem e a dignidade que faltaram aos de cá.