A MURALHA FOI EDIFICADA PELO INFANTE D. PEDRO, NO ANO DE 1418

A demolição de uma casa junto ao Governo Civil de Aveiro pôs a descoberto uma estrutura de grande porte, com elementos do século XVI, que poderá estar associada à desaparecida muralha da cidade de Aveiro.

O "potencial interesse arqueológico" do achado foi comunicado à Câmara de Aveiro pela Associação de Defesa do Património ADERAV, que reclama a intervenção da autarquia.

Fonte municipal disse à Lusa que a obra de demolição da casa "foi feita há um ano, de forma ilegal, e internamente foi desencadeado o respectivo processo de contra-ordenação".

"No caso de já ter sido regularizada a situação, o dono da obra será informado de que deverá ser feita uma avaliação por arqueólogos, através da Divisão de Património", esclareceu à Lusa fonte camarária.

Paulo Morgado, geoarqueólogo e da direcção da ADERAV, relatou à Lusa que se trata "de uma estrutura possante e sólida e não de um pequeno muro, com cerca de dois metros de espessura e visível neste momento em cerca de três metros de altura, encaixada em construções posteriores".

"Podemos estar na presença de uma estrutura associada à antiga muralha, quer porque a cartografia antiga indica que passaria sensivelmente naquele local, quer porque tem elementos cronologicamente do século XVI", disse à Lusa Paulo Morgado.

Segundo aquele geoarqueólogo, o local tem também visíveis "elementos cerâmicos muito semelhantes" à embarcação do século XVI encontrada da Ria de Aveiro, designada "Aveiro A" e "pedras de lastro, materiais que terão sido aproveitados na construção".

Paulo Morgado refere ainda a existência de uma estrutura subterrânea abobadada, a que a ADERAV não conseguiu ter acesso e que "só se poderá vir a compreender de que se trata se for feito o desaterro".

"Podemos estar na presença de uma estrutura associada à muralha, que tem de ser estudada para determinar a que corresponde. É extremamente importante fazer o registo do que foi posto a descoberto", comentou à Lusa o dirigente da ADERAV.

A antiga muralha medieval de Aveiro foi mandada edificar pelo Infante D. Pedro, no ano de 1418 e possuía nove portas, alguns postigos e torreões.

Foi restaurada no reinado de D. Manuel I e ficou danificada quando Aveiro foi tomada pelas tropas do Prior do Crato, pelo que recebeu novo restauro no reinado de D. João V.

A necessidade de materiais para a abertura da barra artificial, no ano de 1806, levou ao seu desmantelamento, sendo a pedra igualmente aproveitada na construção do edifício do Liceu, hoje Escola Secundária Homem Cristo.

Os últimos vestígios visíveis, que corresponderiam à antiga Porta de Rabães e ao torreão que lhe ficava contíguo, desapareceram em Novembro de 1983, também devido à construção de uma obra particular, o que na altura motivou o protesto da ADERAV junto da autarquia.
Diário de Aveiro


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