A INVESTIGAÇÃO DAPJ ESTARÁ RELACIONADA COM O CASO DA BOA HORA

A Polícia Judiciária de Aveiro está a investigar negócios relacionados com a extracção de areias em Vagos, tendo efectuado buscas numa Junta de Freguesia, confirmou hoje à Lusa fonte policial.

Segundo a Lusa apurou, terão sido efectuadas buscas nas instalações de uma Junta de Freguesia e em algumas empresas do sector, para além de outras diligências.

Conforme a Lusa noticiou, em Fevereiro, a Comissão de Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) apreendeu máquinas que procediam à extracção ilegal de areias numa zona da Rede Natura 2000, na Boa Hora, Vagos, alegadamente para custear obras de um centro social.

O Centro Social da Boa Hora foi começado a construir há três anos, em terrenos cedidos pela Câmara de Vagos na zona florestal e desde então tem vindo a ser feita a extracção intensiva de inertes, por uma empresa de Santa Maria da Feira, mediante entrega à associação de uma percentagem do valor das areias.

Atendendo ao fim social da obra, a Câmara de Vagos cedeu o terreno e aprovou a construção, cujo financiamento foi a explicação avançada pelo presidente da associação e da Junta, Manuel Bugalho, para iniciar a exploração de areias no local.

A percentagem paga pela empresa e o valor atribuído à areia extraída, bem como o seu controlo, já haviam sido questionados durante a campanha eleitoral das últimas eleições autárquicas.

De acordo com o relato de populares feito à Lusa, a extracção intensiva de inertes levou ao desaparecimento de uma duna no local, originando uma enorme cratera e as máquinas "chegaram a trabalhar na água, com o auxílio de bombagem".

"Saíram dali centenas de camiões carregados, que passavam na povoação de dia e de noite", relataram pessoas que habitam nas imediações, referindo ainda que o "buraco" criado foi preenchido com "entulho de toda a espécie".

A investigação da Polícia Judiciária estará relacionada com o "caso da Boa Hora", onde foram apreendidas as máquinas, mas incidirá também sobre outras explorações de areias no concelho de Vagos, tendo em vista eventuais crimes de natureza ambiental e negócios ilícitos.

Em declarações prestadas à Lusa em Fevereiro, o presidente da Câmara de Vagos, Rui Cruz, revelou que "desde 2002" várias entidades teriam conhecimento da extracção de areias naquele local, salientando que "por Lei, o que se passa na Reserva Ecológica Nacional (REN) não é de competência municipal".

Segundo Rui Cruz, o procedimento usado pela Associação Boa Hora para financiar a construção do seu centro social teria já um precedente, quando foi feita a Escola Prática de Agricultura de Vagos (EPAV), nas imediações, questionando o destino dado às areias resultantes das terraplanagens para a construção daquela escola pública.

Rui Cruz salientou que algumas das explorações de areias estão licenciadas pelo Ministério da Economia, mas reconheceu que a extracção ilegal de inertes é comum no concelho, acusando as várias entidades com jurisdição de criarem entraves a que a actividade seja disciplinada.

"É uma realidade que existe no concelho há 30 anos e que não queremos que continue a ser feita sem regras, pelo que propusemos, na revisão do Plano Director Municipal, que houvesse zonas definidas para essa actividade e têm-nos colocado vários entraves", comentou o autarca.
Diário de Aveiro



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