O Centro de biotecnologia português BIOCANT é o único na Península Ibérica a ter a mais recente tecnologia para decifrar o código genético do ADN, um aparelho que custa cerca de 500 mil euros. De acordo com uma apresentação feita hoje no BIOCANT, em Cantanhede, Coimbra, a nova tecnologia de sequenciação de genomas traz vantagens à investigação sobretudo ao nível da rapidez. A sequenciação de genomas permite, por exemplo, saber qual a função desempenhada por um gene numa doença ou perceber a resistência de determinados organismos a antibióticos. "Quando levava semanas ou meses, uma sequenciação de genoma pode passar a demorar um único dia de trabalho com o sistema GS20", afirmou Ângela Duarte, responsável da multinacional que comercializa este aparelho. A nível internacional, o GS20, usado desde 2005, já permitiu sequenciar nomeadamente o genoma do homem de Neandertal, o genoma do mamute e identificar a flora intestinal ligada à obesidade. "Muitos projectos de investigação estariam vedados sem este sistema. Ele vai permitir avanços científicos muito grandes e uma produtividade sem paralelo, salientou Ângela Duarte. O presidente do BIOCANT, Carlos Faro, reconheceu que o investimento inicial no GS20 é "cinco vezes mais caro" em relação ao sistema tradicional, mas referiu que, dada a rapidez de tecnologia o custo de uma sequênciação de genoma acaba por ser "cinco vezes mais barato". Também Ângela Duarte disse haver uma redução de um terço em relação aos custos normais de sequenciação. O GS20 do BIOCANT é até hoje o único na Península Ibérica e Carlos Faro admitiu não ser uma tecnologia adequada a pequenos laboratórios. "É preciso ter uma infraestrutura adequada e recursos humanos treinados para tirar partido da tecnologia. Em Portugal, um aparelho destes já é suficiente, eventualmente poderá haver um segundo", disse. O BIOCANT fez já a sequenciação do genoma de uma bactéria da zona termal de S. Pedro do Sul, que é a bactéria mais resistente à luz em todo o mundo. Além disso, esta bactéria é fortemente resistente à desidratação e os investigadores acreditam que o projecto pode ser muito útil para encontrar mecanismos para fazer face à desertificação. Universidades, centros de investigação ou empresas farmacêuticas podem passar a recorrer ao BIOCANT para usar esta nova tecnologia nas suas investigações. O GS20 poderá ser aplicado na sequenciação do genoma de bactérias, fungos, leveduras ou vírus e ainda na tipificação do genoma de uma população como a portuguesa. O BIOCANT é o primeiro parque especializado em biotecnologia em Portugal e, segundo os resultados do primeiro ano de funcionamento, já criou 50 novos de trabalho e facturou cinco milhões de euros no conjunto das dez empresas nele sedeadas.Diário de Aveiro |