Soube, há dias, pelas agências noticiosas, da morte de John Billings, o pai do método natural da regulação da fertilidade, conhecido como “método da ovulação pela observação do mucos cervical”. Conheci o investigador australiano, em 1980, no Sínodo dos Bispos sobre a família, em que participou, a convite de João Paulo II, juntamente com Evellyn, sua esposa e companheira na investigação e na concretização do método. Durante mais de 25 anos, o casal Billings investigou, pacientemente, até ao aperfeiçoamento, que só depois divulgou, um método que respeita por completo as leis da natureza, devidamente provado e cientificamente credenciado. A ele se associaram depois cientistas de todo o mundo. Por estranho que pareça, encontrei ao longo da minha vida já vivida, médicos e enfermeiros que orientam o planeamento familiar em centros de saúde públicos, desconhecendo este avanço da ciência, que comporta, para além dos efeitos desejados, um total respeito pela natureza da mulher. Trata-se de um verdadeiro método ecológico, é bem dizê-lo, num tempo em que parecem valer mais os pássaros e as cegonhas que as pessoas. Quem não anda distraído, nem distante, de coisas importantes da vida sabe, perfeitamente, que o problema grave do planeamento familiar está longe de resolvido, com a seriedade que um tal problema merece. Assim, quer pelos efeitos pretendidos de um processo imediato, quer pelas diversas consequências que por vezes surgem a afectar a saúde e a vida da mulher. A situação é mais grave e preocupante em relação a diversos químicos, mas não é também inócua quando se trata de alguns meios mecânicos. A máquina maquiavélica e poderosa das multinacionais, produtoras de produtos, orientados para impedir a fertilidade, e a luta desenfreada de interesses entre as mesmas, tem levado a que muitos dos directamente inseridos no processo, como informadores e decisores, se instalem apenas naquilo que as mesmas empresas comunicam e propõem, de mistura com benesses que não se podem perder. Assim, é mais fácil e mais rentável. Os métodos naturais foram por isso, progressivamente, depreciados e calados, mesmo por aqueles que, por dever de ofício e por honestidade profissional, os deviam conhecer bem para os poderem propor, de modo esclarecido, à decisão livre de quem procura, legitimamente, informação e orientação para regular e planear os filhos que deseja. Não se trata apenas, dado que se sonega informação a que se tem direito, de um situação injusta, frente aos utentes de um serviço público. Trata-se, também, de ver, de modo superficial e pouco honesto, um problema grave que requer uma informação correcta e uma educação acompanhada. O pouco cuidado em todo este processo, é lamentável e tem feito diminuir, vertiginosamente, a natalidade e criado um desequilíbrio perigoso entre a prática sexual e a dimensão positiva e responsável da mesma. A quem pode interessar esta situação? É bom que se interroguem sobre o problema e a realidade os médicos, os informadores sexuais, as associações de planeamento e os cada vez mais numerosos abortistas, por um tempo ufanos e vitoriosos em batalhas, onde a vida, as pessoas, a sociedade e o respeito pelas leis da natureza contam cada vez menos. Ainda sou dos que acreditam que o mérito da investigação, longa e séria, de John Billings e de sua esposa continuarão a contar para os casais que reagem aos mais fácil e são fieis às opções em que natureza érespeitada e as suas leis acolhidas, de modo sempre mais agradecido.
António Marcelino* *Bispo Emérito de AveiroDiário de Aveiro |