Encontra-se patente ao público, na sala de exposições da Biblioteca Municipal de Oliveira do Bairro, uma exposição, intitulada “Histórias em Branco”, da autoria de Lúcia David, um novo valor bairradino no mundo da arte. Sem pingo de tinta Residente em Anadia, mas bem nascida na clínica de Santo António, Mamarrosa, filha de mãe natural de Sangalhos, o trabalho de Lúcia David, que se licenciou em escultura e metais em 2000 e tirou o mestrado, em 2002, em Book Arts, em Londres, “desenvolve-se entre instalação, performance, escultura, livro de artista e escrita, integrando técnicas artesanais como bordado”. E mais: “reflectindo sobre questões da condição das mulheres (...) constrói histórias visuais sobre um mundo em ruptura social e política”. A autora expõe, no âmbito do Internacional do Livro Infantil, nada menos do que 18 trabalhos, de um modo geral telas, onde não entra um pingo de tinta ou esquiço de pincel, mas uma abundante imaginação, alidada a uma técnica que não é habitual e, por isso, todos concordaram que se trata de uma exposição diferente e única no género. Não há tintas, mas nem por isso deixa de haver histórias que são contadas a partir de folhas de livros, umas escritas, outras em branco, e também não falta a utilização de fio ne nylon como se fosse fio de coser os cadernos. Há ainda trabalhos de escultura (ramos de macieira, um banco). Os títulos são todos em inglês. O catálogo é magnífico. “Nem tudo é inocente” “Histórias em branco somos nós também antes de nascermos”, assim começou a sua intervenção (apresentação) a vereadora da cultura, Laura Pires, a propósito de uma exposição que “tem esta qualidade e maturidade que nos choca um pouco”. Arte de certo modo abstracta, ou pelo menos pouco explícita, cada um interpretará os trabalhos, segundo o seu estado de espírito e capacidade de recriar o que visiona pleno de serenidade - só aparente, no entendimento da autora . Conforme as cores que somos e vivemos, assim cada um fará a sua leitura, mais próxima ou mais longínqua, porque, no dizer de Laura Pires, nós somos uma grande mistura de cores, nomeadamente a cor branca que é a única a preencher e a rascunhar as telas. Lúcia David, que não só expôs no nosso país, mas também em França e Inglaterra, no uso da palavra, declarou que, atendendo ao Dia Internacional do Livro Infantil, procurou apresentar trabalhos que não choquem as crianças, preferindo a cor branca a todas as outras porque está ali estampado o tempo da inocência, mas nem por isso deixa de colocar questões a cada um dos visitantes, relativamente ao papel e situação da mulher no mundo ( sexualidade, aborto, fecundação, etc.). “Há muitas questões à volta disto”, por isso, concluiu, “nem tudo é inocente”, embora tudo através do uso da metáfora. Mário João de Oliveira, que estava acompanhado do seu vice, Joaquim Santos, mostrou-se satisfeito pelo facto da biblioteca acolher e expor “trabalhos tão distintos como estes que estão aqui a ser evidenciados”. Quanto ao entendimento e sua interpretação, cada um encontrará uma explicação, porque “a arte para cada um é aquilo que cada um vê e imagina”, vendo-a “certamente de maneira diferente”. Diário de Aveiro |