O Galitos jogou no sábado com o Galitos, para a 24ª jornada da Proliga de basquetebol (segundo escalão nacional). Um ganhou, o outro perdeu e muita gente continua baralhada e com as "voltas trocadas". "Ainda recentemente tivemos uma reunião e fomos obrigados a arranjar um 'apelido' para cada um, pois ninguém se entendia", desabafa, entre risos, o vice-presidente do Galitos de Aveiro, António Benjamin, responsável pelo pelouro do basquetebol do clube centenário. Num cenário invulgar, e talvez inédito no panorama desportivo, duas equipas com o mesmo nome disputam o mesmo campeonato. Sábado nem se tratou de um "derby", porque um é de Aveiro e outro do Barreiro, e muito menos de um "clássico", já que só esta época o emblema da Margem Sul conseguiu chegar à segunda divisão nacional. O Galitos de Aveiro, ou Clube dos Galitos no original, entrou para o restrito "clube dos centenários" a 25 de Janeiro de 2004, e "ganha" ao homónimo do Barreiro na tradição e ecletismo, embora seja o clube mais a Sul que se encontre actualmente na "mó de cima" no campeonato. Ao quinto ano de investimento no projecto sénior, o Galitos Futebol Clube, assim se chama o do Barreiro, sagrou-se campeão da CNB1, terceiro escalão, e é actualmente um sério candidato aos lugares que podem dar acesso à divisão profissional. "Este é o sexto ano de projecto e estamos a conseguir consolidar a secção. O Barreiro é uma terra de basquetebol e, por isso, torna-se relativamente fácil captar as forças da terra", confessa o "vice" barreirense para o basquetebol, José António. à conta desta curiosa "salganhada", que atraiçoa muitas vezes as notícias sobre os dois clubes na Proliga, os dois responsáveis têm algumas histórias engraçadas. O nome partilhado não é pura coincidência, muito pelo contrário, tem raízes históricas que vinculam os dois emblemas. As duas representações têm actualmente a face mais visível no basquetebol, mas poucos sabem que é o... bacalhau que os une. A história começa em princípios do século passado, quando os bacalhoeiros de Aveiro desciam a costa para a seca do peixe na região a Sul do Tejo. Para o descarregamento, que chegava a durar semanas, por ser um processo totalmente manual, os barcos costumavam aportar em Alcochete, Palhais e Telha. Foi nesta zona, actual freguesia de Santo André, no concelho do Barreiro, que nasceu o Galitos FC, a 25 de Abril de 1935, "importando" o nome do clube de Aveiro como homenagem ao vínculo comercial e afectivo entre as duas regiões. "As descargas eram processos morosos. Por isso, muita gente de Aveiro se foi fixando por estas bandas", explica José António, acrescentando que o "carinho" entre as duas regiões continua a alimentar-se por um facto que diz ser "indiscutível": "Aveiro e Barreiro são claramente as duas capitais do basquetebol nacional". Apesar dos afectos continuarem bem vivos, até porque muitas famílias de origem aveirense vivem actualmente na zona do Barreiro, os dois dirigentes coincidem num lamento: o vínculo histórico foi-se desagregando com os anos e não existe tradição, nem memória recente, de iniciativas em conjunto. António Benjamin tem, porém, em "rascunho", a ideia de juntar, num torneio triangular, os clubes que ostentam o símbolo estilizado do galo. De memória, conhece mais um, sedeado nas Caldas da Rainha, os Pimpões, que também aposta no basquetebol de formação. "Seria engraçado passar um fim-de-semana a jogar basquetebol", refere o dirigente aveirense, que assume, sem complexos, só ter reparado na existência de um outro Galitos quando teve conhecimento do campeão da CNB1: "admito que recebi a notícia com algum espanto". Sobre as confusões geradas pelo nome, António Benjamin confidencia que chega a receber os parabéns pelas vitórias do Galitos... do Barreiro, quando, em algumas ocasiões, estava ainda a tentar "digerir" uma derrota do "seu" Galitos. "Isto é quase como haver dois irmãos gémeos. Geram-se algumas situações caricatas", admite o vice-presidente do clube aveirense, numa opinião que coincide com a do seu homólogo barreirense. José António diz que se depara frequentemente com gralhas nos resultados, e classificações, do campeonato: "já não é a primeira vez que os pontos que conquistamos são atribuídos ao Galitos de Aveiro e vice-versa. Existe alguma confusão, porque as pessoas ainda não se habituaram a dois Galitos". Esta semana, António Benjamin não vai queixar-se, de certeza, das chamadas telefónicas trocadas, a não ser que alguém se lembre de lhe ligar para levantar o ânimo, coisa que o dirigente aveirense nem precisa. No jogo de sábado, e contrariando as "estatísticas" da temporada, foi o Galitos de Aveiro a levar e melhor sobre o homónimo barreirense. Venceu em casa por 84-80 e ganhou um pequeno impulso na corrida à manutenção (é agora 12º, com mais quatro pontos que o 15º e último classificado, a Associação Académica da UTAD). Quanto ao Galitos do Barreiro, sofreu a oitava derrota em 22 jogos, mas continua a ocupar o quinto posto da tabela, embora agora com os mesmos pontos que outro "histórico" do basquetebol português, a Física de Torres Vedras.Diário de Aveiro |