Refomar, criar nova forma, novo dinamismo, é sempre um “acto” que envolve fronteiras e realidades de ténue sensibilidade. De pouco interessa reformar à força; de nada valerá o reformar por reformar só porque está na moda ou os números económicos assim o aconselham. Reformar implicará um misto de transformações evolventes e colectivas de mentalidade, de cultura, de modos de estar, sentir, fazer. Reformar, palavra sempre tão proclamada e pouco assumida como ideal comunitário, implicará uma visão de envolvente ampla para todo o investimento reformista não cair em “saco roto”, mesmo para quando das naturais e saudáveis mudanças governamentais não se voltar à “estaca zero”. É que tudo passa, e o que fica será aquilo que - com capacidade de abertura à totalidade - se “fez” com os outros. 2. No mobilizar para a Reforma concreta de áreas fundamentais de um país, é certo, não se poderá atingir (nem será saudável mesmo) o ideal da absoluta sintonia de pensamentos, não se poderá dialogar infinitamente sem a coragem da decisão. Mas também, reformar sem ouvir, sem incluir, sem falar, sem dialogar, reformar sem estimular a participação (eixo essencial da democracia) será sinal de défice, afinal, de falta de ligação explícita àqueles que elegeram os representantes soberanos. Reformar, fronteira sempre exigente e difícil, terá de significar envolver, abarcar todas as pontes possíveis, capacidade de incluir (no mais e melhor) “todos” os pontos de vista. Só na base do espírito comunitário, de participação envolvente e compreensível, a reforma dará os seus efeitos pretendidos a médio e longo prazo. 3. Neste sentido, hoje, em democracia, não será possível reformar sem o povo. Pretender mudar o rumo da história sem nesse rumo estimular e envolver aqueles a quem a renovação se dirige será sinal de automática precaridade da própria reforma, esta que de vistas tão curtas pode não ultrapassar as fronteiras de um grupo ou de uma ideia. Reformar sem mais participação dos destinatários no erguer da própria reforma desagrega, ainda mais, a sociedade, faltando a noção clara de um “ideal comunitário” compreendido, explícito, que sirva as pessoas concretas nas suas cidades, freguesias, instituições, ruas. Também, a esta realidade, junte-se a verdade objectiva de que não há reforma, mudança, que agrade a todos; mas no fim de tudo, todos terão de compreender - a todos deve ser explicado - o rumo que se pretende, pois só assim dos sacrifícios se vislumbrará o procurado futuro melhor. 4. No nosso país, (mentalmente) carente de lideranças e afirmações (por vezes quaisquer que elas sejam), vivemos tempos de reformas apressadas. Tal a sede colectiva de uma “salvação” que nos tire do fundo da “tabela europeia”. Esta “reformofobia”, entre o mérito da determinação mas o limite da participação, de tão apressada no procurar recuperar o terreno perdido, poderá correr o risco de ficar na rama pois não assumida e interiorizada convenientemente pelos cidadãos, e pela incapacidade de integrar de forma estimulante as diversidades de pensamento. Reformar a sério nunca será acto isolado, reformar requererá o esforço máximo do dialogado “consenso” como “escola” de serviço e paradigma de referência para os cidadãos na vida de todos os dias; este ideal que será tão diferente da inflexibilidade, da visão única, do diálogo de surdos ou mesmo do não “não falar”, deitando a perder as proximidades necessárias de uns com os outros em democracia. 5. O povo diz que “depressa e bem há pouco quem”. (A nós é-nos pedido depressa e bem!) Não chega, assim, o dizer-se “que” vamos reformar, importará bem mais o “como” vamos fazê-lo. É impossível haver fruto sério e com futuro de qualquer reforma sem apostas claras nos três eixos essenciais de um país democrático: a Educação, a Saúde, a Justiça; melhor, uma educação transversal para a saúde e a justiça que assim se iluminam interiormente para o ideal do bem-comum. Se a educação será, no fundo, a mãe de todas as novas mentalidades pretendidas, ela terá de ser a base de todas as reformas. Como vão e que pretendem as reformas nestas três áreas fundamentais do país (educação, saúde, justiça)? Como “jogam” umas com as outras? Como os diferentes actores e as diferentes visões as lêem em coabitação e sinergia para “puxar” o país? (Uma coisa será certa, os euros não poderão condicionar estes eixos?) 6. Perguntar será, estrategicamente, sentir que tudo pode ser sempre melhor; não haverá reforma com futuro se todos os agentes não estiverem envolvidos na participação. Perguntar, afinal, será participar. É que poderão existir “determinações” à força, ainda sem a capacidade e lastro para integrar todos os actores que estão em jogo. Talvez seja oportuno lembrar que antes das reformas já havia país (pessoas e serviços), e só com o seu respeito e “participação” as reformas darão frutos. Só a participação será a base para a mudança de mentalidade que qualquer reforma pretende. Tem sido louvável este esforço em muitas áreas; mas, falta imenso? Mesmo que a reforma em estruturação e/ou andamento não o preveja ou não o pretenda, vamos participar mais!... Alexandre Cruz*
*Centro Universitário de Fé e CulturaDiário de Aveiro |