Muito se tem falado da economia, das finanças, do orçamento da despesa e da receita em Portugal. Estes assuntos, se bem que importantes, não são os únicos problemas do nosso País. Ouvimos falar em demasiada despesa pública e isso, nem sempre, é necessariamente mau. Se a despesa contribuir para o desenvolvimento da Nação ela é bem vinda. Se for naturalmente controlada, se não servir apenas para enriquecer uns quantos grupos de pressão e mais uns tantos amigos do poder, ela é absolutamente necessário para o nosso crescimento. Por isso, a despesa pública deve ser olhada com critério e com a cumplicidade que merecem a avaliação correcta do que é bom e daquilo que é nefasto. O estado gordo, cheio de gorduras supérfluas é absolutamente dispensável quando as tais gorduras nos pesam no corpo. Gastamos mais energia a deslocarmo-nos, cansamo-nos mais depressa, temos preocupações com o tamanho da roupa, gastamos mais dinheiro com medicamentos e com a comida, etc... Assim é com o Estado. Demasiado estado, excessivos funcionários, imensos institutos e organismos a fazerem o mesmo, têm o mesmo efeito que a gordura a mais no nosso corpo. Custam demasiado para a função a que se propõem. Claro que gordura é formosura como diz o povo. Até andamos mais alegres dizem. Talvez, mas é por menos tempo. É assim com Estado, só que não andamos tão alegres (só alguns funcionários e os chamados boys) e custam-nos os olhos da cara. Mas de tantas reformas que ouvimos falar e promessas de implementar devemos desconfiar. Será que todas elas de tanto cortar estão apenas a aparar na gordura? Ou estão a ceifar também o músculo? Pois é? Tenho dúvidas, mesmo muitas dúvidas. O Estado anda numa onda de cobrar muitos impostos, de fazer um grande esforço para colectar a quem não paga e isso para além de justo poderá ser bom para todos nós. O Governo, tal como os fariseus no tempo de Jesus, cobra muitos impostos e cada vez mais, porque os aumentaram desde as últimas eleições apesar de terem prometido o contrário. A consciência social leva-nos a pagar impostos para o bem de todos nós. Mas não deveremos perguntar o que fazem com esse dinheiro? Afinal, cada vez se paga mais impostos e vemos menos saúde, menos educação, menos estradas, menos manutenção das pontes e viadutos, mais crime, menos serviços públicos, pior e mais demorada justiça. Será só que estão a cortar gordura ou estão apenas a mudá-la de sítio ou a fazer uma daquelas operações estéticas. Esta é uma pergunta fundamental que qualquer contribuinte deve fazer ao Governo na altura em que está a entregar a declaração de IRS. Não gostava de ter a opinião do grande escritor Eça de Queiroz que disse do seu tempo; O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. (...) A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»
António Granjeia* *Director do Jornal da BairradaDiário de Aveiro |