No próximo domingo os portugueses vão às urnas para decidir mais uma vez sobre a problemática do aborto. Para a democracia portuguesa este referendo é mais uma prova de maturidade. Na essência, a democracia coloca sempre em jogo o seu futuro nas mãos dos votantes em cada acto eleitoral, para além do que realmente se decida no escrutínio, na media em que se desacredita com afluências baixas. Por isso, a nossa primeira mensagem é apelar ao voto consciente de todos os bairradinos e portugueses, no próximo domingo dia 11. Sendo um tema controverso na sociedade é discutido com paixão nas famílias, nas tertúlias sociais, nos clubes, nos partidos e naturalmente dentro dos fóruns de debate de todas as confissões religiosas. O aborto é claramente um tema de consciência. Por sua vez, estes temas, quando escrutináveis, não devem ser objecto de campanha eleitoral. Talvez assim se pudesse evitar a contaminação da propaganda, permitindo-nos, eventualmente, perceber qual o verdadeiro sentir dos portugueses sobre esta matéria. Mas a realidade é que há campanha, todos cruzam argumentos e contra razões. O apartidarismo que o jornal persegue não se confunde com este refendo, pois ele não é, na essência, uma questão política ou da exclusiva propriedade dos partidos políticos. É uma matéria de consciência e cidadania. Por isso, achamos legítimo emitir uma opinião desta tribuna. Uma opinião que a uma pergunta tão simples tem uma resposta clara. Pessoalmente somos contra a liberalização do aborto e não conta a penalização da mulher. Achamos mal que na altura de decidir, apenas a mulher tenha voz e que ninguém se preocupe com a criança quando deve haver compreensão para com aquelas que, mercê das circunstancias ou por falta de esclarecimento, não obtiveram o apoio necessário para terem o seu filho. Mas também somos bastante pragmáticos e temos dificuldades em entender nos dias de hoje a necessidade de abortar sem ser pelas fortes razões que já estão consignadas na actual lei. Desde 1999 que a pílula do dia seguinte é comercializada em Portugal, sem necessidade de receita médica. É dispensada gratuitamente em centros de saúde desde 1 de Dezembro de 2005. O planeamento familiar, os métodos contraceptivos não são hoje nada que nenhuma mulher, em idade fértil, desconheça. O caminho mais fácil nem sempre é o melhor. Por outro lado a taxa de natalidade em Portugal baixou para metade nos últimos 40 anos. Em 2005, a média de filhos por casal foi de 1,5, permanecendo bem abaixo do nível de renovação das gerações (2,1) necessário para viabilizar a nossa nação com portugueses. Em vez do governo gastar tanto dinheiro mal gasto, não poderia fazer como a Alemanha, que incentiva a natalidade com 25 mil euros por cada nascimento? Nem é preciso tanto, basta haver uma política coerente de apoio à natalidade. Devemos ser pró-activos e não apenas reagir. As razões: http://www.youtube.com/watch?v=AfrMHnT3jKE
António Granjeia* agranjeia@jb.pt *Director do Jornal da Bairrada Diário de Aveiro |