APRESENTAÇÃO DESTA EXPOSIÇÃO EM COIMBRA

Abriu, no passado dia 21 de Setembro ao público, em Aveiro, a mais vasta exposição de sempre de obras de Arlindo Vicente.

Três espaços

Repartida por três espaços - Galeria Morgados da Pedricosa, 51 óleos; Galeria dos Paços do Concelho, 28 aguarelas; e Casa da Cultura, 67 desenhos - trata-se de mais uma iniciativa da Comissão Promotora das Comemorações do Centenário Natalício de Arlindo Vicente, desta vez levada a cabo por Aveiro-Arte, um parceiro da referida comissão. A Câmara Municipal de Oliveira do Bairro, outro dos parceiros, respondeu pelo financiamento da exposição, e a sua congénere aveirense, que nunca chegou a aderir activamente às comemorações, disponibilizou os espaços utilizados.

Na breve cerimónia de abertura, que teve lugar na Galeria dos Paços do Concelho, depois de feitos os devidos agradecimentos, foram apresentados a exposição e o programa das comemorações que ainda falta cumprir. Usaram da palavra Lúcia Seabra, presidente da direcção de Aveiro-Arte, Silas de Oliveira Granjo, pela Comissão Promotora das Comemorações, Capão Filipe, Vereador da Cultura da Câmara Municipal e a Laura Pires, sua homóloga de Oliveira do Bairro. Esta última reafirmou todo o apoio da edilidade regozijando-se com o enriquecimento que o conhecimento da obra e da personalidade de Arlindo Vicente trouxe a si própria, ao concelho, e, espera-se, ao distrito.

Além dos filhos de Arlindo Vicente, Maria Tereza Vicente e António Pedro Vicente, e seus cônjuges; e, em representação de Fernão Augusto Vicente, sua esposa, Laura Vicente, de cujas colecções provem o acervo agora exposto, estiveram presentes outros familiares e amigos, e ainda um punhado de pessoas ligadas à cultura.

A visita terminou na Galeria Morgados da Pedricosa.

A presente exposição pode ser visitada nos locais acima indicados, de terça-feira a domingo, das 14:00 às 19:00 horas, até ao próximo dia 11 de Outubro, após o que será montada em Oliveira do Bairro, onde ficará, assim o esperam os seus promotores, durante cerca de um mês.

Nascido no Troviscal a 5 de Março de 1906, Arlindo Vicente foi artista, advogado e político. Como artista ombreou com os grandes do seu tempo, Almada Negreiros, Sarah Afonso, António Pedro, Mário Eloy, Tagarro, Manuel Ribeiro de Pavia, Abel Manta, Júlio, Nikias Skapinakis; e retratou, entre outros, António Pedro, João Gaspar Simões, Miguel Torga, José Régio, Vitorino Nemésio, Adolfo Casais Monteiro, Afonso Duarte e Pierre Hourcade. No desenho, na aguarela e no óleo, foi um dos grandes artistas do século XX português.

Como advogado, defendeu gratuitamente os perseguidos do salazarismo, que outros, por medo, se recusaram a defender. Por isso, granjeou a simpatia popular e foi proposto pela oposição democrática para a candidatura à Assembleia da República em 1957, pelo círculo de Lisboa, e à Presidência da República, no ano seguinte. Para unir a oposição e ajudar a derrubar o caduco Estado Novo, aceitou fundir a sua candidatura com a de Humberto Delgado. Denunciou veementemente a fraude generalizada que nessas eleições deu a vitória ao candidato do regime, Américo Tomás, o que lhe valeu a prisão em 1961. Um simulacro de julgamento orquestrado pela PIDE sentenciou-o a 20 meses de prisão e 5 anos de suspensão de direitos políticos, que de facto só os adeptos do regime detinham, e só a intervenção directa de alguns governantes de países estrangeiros (Estados Unidos da América, França, Inglaterra, Suécia e outros) permitiu a sua saída em liberdade após o julgamento e dez meses de prisão humilhante.

Mais acções

Do programa das comemorações do centenário falta ainda cumprir:

· Apresentação desta exposição em Coimbra.

· Publicação de um livro com textos de e sobre Arlindo Vicente e seu percurso artístico, que inclui a reprodução integral de todas as obras agora expostas, e de outras, cujas fotografias se consigam, entretanto, obter. Este livro será lançado em 14 de Outubro, com a abertura das exposições em Oliveira do Bairro.

· Lançamento em Oliveira do Bairro do livro do Dr. Miguel Dias Santos, Arlindo Vicente e o Estado Novo, actualmente no prelo da Imprensa da Universidade de Coimbra.

· Um concurso “literário” nas escolas básicas e secundárias do concelho, dirigido às crianças e jovens.

· Um “PEDI-PAPER” organizado pelo grupo de escuteiros do Troviscal, dirigido aos jovens.

· Publicação de um livro com textos que ilustram o percurso político de Arlindo Vicente, mormente as eleições presidenciais de 1958.

· Um concurso de pintura alusiva a Arlindo Vicente, organizado pela Associação de Artistas Plásticos da Bairrada (Anadia).

· Atribuição de uma bolsa, por sugestão do senhor Delegado Regional da Cultura do Centro, para a inventariação da obra pictórica dispersa de Arlindo Vicente.

· Realização de uma romagem ao cemitério onde se encontra sepultado Arlindo Vicente, por ocasião do aniversário do seu falecimento.

· Proposta de atribuição póstuma da Medalha de Ouro do Município de Oliveira do Bairro a Arlindo Vicente.

· Concerto de encerramento com a Banda da União Filarmónica do Troviscal que interpretará uma obra do compositor Luís Cardoso, inspirada na obra de Arlindo Vicente.

· Apresentação desta mesma exposição na Sociedade Portuguesa de Belas Artes, em Lisboa.

Humberto Carvalho
Diário de Aveiro



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