Convém reflectir sobre o futuro de Portugal sempre e em cada dia que passa. Esta é uma tarefa que não cabe apenas aos decisores políticos nacionais ou de freguesia, aos líderes de opinião, com mais ou menos audiência nos média, aos mais eruditos e escolarizados. É uma obrigação de toda a sociedade portuguesa de debater o seu futuro colectivo e de, em conjunto, rumar num azimute que nos leve longe. A constante demissão de todos em debatermos nos fóruns próprios, participarmos empenhadamente nas discussões dos problemas que nos afectam, ficarmos demasiadas vezes pela apreciação fugaz e superficial dos problemas que se nos colocam como sociedade organizada, tem o perverso contra de sermos contestatários quase pela única razão de porque, sim ou porque os meus direitos foram atingidos. É bom e razoável que nos indignemos, que protestemos, que barafustemos porque um qualquer governante nos atingiu num direito que possuímos, ou que uma organização social ou pública nos prejudicou, mas temos, antes demais, que entender o todo do problema, que alcançar a razão da retirada do dito privilégio. Essa a é a razão de agora ser quase um desporto nacional sermos do contra. Muitas vezes somos contra e nem sabemos bem porquê. Não é apenas um problema de Portugal, mas isso também não nos conforta. Eu sou a favor e recomendo uma tolerância baixa aos serviços públicos que funcionam mal, à estúpida necessidade de ir às finanças 20 vezes para resolver um mesmo assunto, ao facto de cada funcionário de uma qualquer repartição pública ter uma opinião diferente sobre um assunto. Eu também não entendo por que existe, ao fim de tantos anos, tanta burocracia, por que é que se fôssemos medir todas os artigos de matriz das propriedades nas conservatórias, Portugal seria 3 vezes maior do que é. Porque tanto mudam os planos directores municipais, porquê tanta volatilidade dos limites das zonas agrícolas, por que há tantos fogos, por que é que a justiça é lenta, por que existem listas de espera nos hospitais, etc.? Mas não nos basta ser do contra. Temos de entender e participar na discussão dos problemas e perceber que o Estado que tudo resolve aos cidadãos não existe. Os regimes que prometiam isso, já fecharam há muito no leste europeu e as democracias nórdicas começam a arrepiar caminho. É necessária uma discussão nacional sobre o nosso futuro. Não basta haver entendimento partidário pontual sobre a justiça. Tenho, aliás, receio que tenha sido apenas uma forma de retirar dividendos políticos. Tenho a convicção de que passamos ao lado dos problemas decisivos nacionais. Ontem foi anunciado o fecho de quase 1500 escolas primárias. Alguém debate ou se preocupa com as consequências que este acontecimento tem na desertificação do interior, na sustentabilidade futura da segurança social, na demografia, na diminuição da força de trabalho? É preciso repensar este Portugal em que vivemos. Todos temos a consciência de algo.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da BairradaDiário de Aveiro |