É um dos Ranchos Folclóricos mais antigos e prestigiados da região. Falamos do Rancho Folclórico “Olhitos da Bairrada”, de Óis do Bairro, fundado há 25 anos, e que “renasce”, após prolongado luto - de dois anos - em memória da sua fundadora Helena (Verdade) Semedo Gata. “O nosso folclore é autêntico” “O grupo sempre esteve em actividade, mas após o falecimento da nossa fundadora, alma-mater e pilar do rancho, fomo-nos abaixo, pois todos sentimos muito a sua falta, mas continuámos a trabalhar”, destacou Maria Helena Lopes, actual secretária do Rancho e um dos membros mais activos e impulsionadores do grupo que conta ainda com a colaboração de todos os cerca de 50 elementos (adultos e crianças) que integram este Rancho que tem como presidente uma outra mulher, Lília Lameirinhas, esposa do presidente da Junta de Freguesia local. A JB Maria Helena Lopes destacou ainda que “não gostava nada disto. Foi a minha madrinha que me pediu para que entrasse e fiz-lhe a vontade. Hoje, estou aqui, adoro isto e vou defender o nosso folclore com toda a minha força”, sublinhou, avançando também que “o grupo, embora nunca tenha parado, na verdade, sofreu um grande abalo com o desaparecimento daquela que foi a “mãe” deste grupo”, até porque muitos dos elementos que integram o rancho nasceram e cresceram no seio desta grande família. Apesar do revés na vida do grupo e algum desânimo, foi em memória da sua fundadora e depois de um prolongado luto, que recuperaram forças e ânimo para levar por diante o sonho e vontade da sua fundadora. “Não estamos federados, nem sequer inscritos no Inatel e assim vamos continuar porque essa foi sempre essa a vontade da nossa fundadora”, explicou Maria Helena. Tal como aquando da sua formação, é integrado por elementos provenientes do lugar e das povoações circundantes, de todas as idades (dos 5 aos 72) e profissões. Também, tal como no tempo de Helena Verdade, continuam a promover e a divulgar um folclore que tem por base um repertório vasto, alusivo à região, as actividades do campo, do dia a dia (vindima, desfolhada). “O nosso folclore é autêntico e retrata a nossa região, os usos e costumes da forma mais fiel possível”, tal como acontece com os trajes que vestem, “são arranjados por nós e retratam as profissões todas existentes na região há muitos anos atrás”. Daí que as recolhas tenham sido feitas na povoação e na região, há vários anos, ainda sob a alçada de Helena Verdade: “na casa da minha madrinha, acredito que no meio da sua papelada ainda lá vamos encontrar temas inéditos e recolhas que ainda não utilizamos”, destacou Maria Helena que ainda não teve coragem para remexer o legado de Helena Verdade. Uma grande família Quanto à entrada de gente nova diz ser “cada vez menor”, não sabendo muito bem o dia de amanhã. Receosa pelo futuro do grupo “uma vez que os jovens cada vez ligam menos a isto e preferem os cafés, os bares e as discotecas”, reconhece que os que estão, os que restam, “andam cá desde crianças, foi aqui que cresceram”. Desta forma, o rancho acaba por ser uma grande família, daí não ser difícil encontrar casais com filhos, todos membros do grupo. “Temos cá um casal que aqui entrou, aqui namorou, aqui casou e aqui teve os seus filhos”, referiu, acrescentando um caso de “três gerações neste rancho”, mas a verdade é que a matéria-prima é cada vez mais difícil de encontrar. A carolice, boa vontade e fraternidade são uma constante destas gentes que, na sua sede (junto ao Paço de Óis), possui todo o seu espólio (trajes, objectos antigos) e um pequeno bar onde reúnem, ensaiam, preparam as saídas e convivem quase diariamente. Actividades Quanto a saídas são, sobretudo, no Verão: “este ano são sete - um pouco por todo o país”, já que o Inverno é aproveitado para ensaiar e estudar novas coreografias. Maria Helena avança ainda que, por onde passam, deixam sempre muito boa imagem - “toda a gente que nos vê adora as nossas danças e a forma autêntica como transmitimos, nas nossas danças, os nossos usos, costumes e tradições da região”. Como, no tempo de Helena Verdade, foram a Espanha e França querem agora continuar a trabalhar e voltar a fazer actuações mais longe, se possível internacionais. Os Olhitos da Bairrada realizam ainda um Festival (de dois em dois anos) e uma matança do porco que é anual e ajuda a angariar fundos para a manutenção do grupo: “a matança, a sardinhada ou outro evento que promovemos servem para angariarmos fundos e são as senhoras com mais idade, pertencentes ao rancho, que tornam possível estes eventos. Graças ao seu trabalho, empenho e dedicação na confecção das comidas, na preparação das coisas, os festivais e matanças têm corrido muito bem. Elas e nós todos estamos aqui por amor à camisola. Mas a verdade é que, quando elas não puderem, quando faltarem, não sei como vai ser, como vamos continuar”, referiu Maria Helena, salientando que os maiores apoios vêm “da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia, que são os nossos maiores parceiros, sobretudo para as deslocações com a cedência de autocarros”. “Um carinho muito especial” Quanto à população avançou “terem um carinho muito especial pelo grupo, notando-se que também não querem que o grupo termine, mas que continue a divulgar o genuíno folclore da região bairradina”. A terminar, esta breve conversa sobre a vida dos Olhitos da Bairrada (pós Helena Verdade) acrescentou ainda que “embora, nos últimos anos, não tenha acontecido, este ano, vamos retomar, no final da época, os passeios. Desta feita, queremos levar os elementos do grupo a Santiago de Compostela, por forma a incentivar todos a continuar, mas será também uma forma de agradecer a todos a sua participação”.
Catarina CercaDiário de Aveiro |