CARLOS ALBERTO TENTOU FAZER CRER QUE A ESPOSA TEVE MORTE NATURAL

Um funcionário camarário de Águeda foi, na última sexta-feira, condenado a 18 anos de prisão, em cúmulo jurídico, por um crime de homicídio qualificado (16 anos) e um outro de maus-tratos (quatro anos) à sua mulher, que residia em Bustelo, Aguada de Cima.

Maus tratos

Carlos Alberto, em Abril do ano passado, matou a mulher, Maria Emilia Rodrigues a pontapé, em Bustelo, Aguada de Cima e deixou-a em cima da cama, deslocando-se, depois, para um café, afirmando que, quando chegou a casa, deu com a mulher morta.

Carlos Alberto tentou fazer crer que a esposa teve morte natural, comprou roupa para vestir a defunta, assim como uma camisa preta para ir ao funeral, mas não conseguiu. A PJ deteve-o no dia seguinte, pois a autópsia, na altura, revelou que a morte da Emília, se devia a intervenção criminosa

O facto de apresentar hematomas e escoriações no corpo e serem conhecidas as desavenças familiares - eram conhecidos os maus tratos que infligia à mulher, originando algumas vezes tratamento hospitalar - levaram as autoridades policiais a actuar.

Pancadas secas

Vários vizinhos, na altura da tragédia, afirmaram ao Jornal da Bairrada que toda a população conhecia o drama daquela família, sublinhando que, por várias vezes, a mulher esteve internada no Hospital com fracturas, provocadas pelas agressões, e que o marido, quase todos os dias, lhe batia.

O suposto homicida, quando se apercebeu de que a mulher, Maria Emília Rodrigues, não tinha resistido à sova, foi chamar o cunhado e telefonou para a Agência Funerária a encomendar o funeral.

O indivíduo tentou ainda iludir as autoridades, explicando que a mulher tivera morte natural, mas a mulher apresentava alguns hematomas e escoriações, com particular evidência na zona da nuca.

A mesma fonte referiu que um forte clima de desavenças familiares teria desencadeado um quadro de grande violência física e psicológica que culminou com o agressor a bater na mulher e a dar-lhe uma pancada mais forte na zona da nuca.

No dia seguinte ao crime, um morador nas imediações revelava que, naquela noite, ao contrário de muitas outras, não ouviu qualquer barulho, sublinhando que “era prática habitual ouvir o homem a espancar a mulher.

“Ouvíamos pancadas secas, dadas possivelmente com paus ou ferros, durante meia hora seguida. Era assim quase todos os dias”.

Este vizinho que, se remeteu ao anonimato, afirmava que nunca denunciou a situação porque teve medo de possíveis represálias, e sabia bem com que “tipo de homem estava a lidar”.

Era uma boa mulher

Já Cipriano Pereira e Maria Cecília, proprietários de um café na pequena aldeia de Bustelo, conviviam com Maria Emília, há vários anos.

Cipriano Pereira afirmou que a vítima frequentava o seu estabelecimento quase todos os dias.

“Era uma boa mulher, mas sofria muito. Aparecia, aqui muitas das vezes, maltratada com hematomas e outras escoriações. Imagine-se que no dia em que saiu do hospital, depois de ter apanhado uma carga de porrada, o marido partiu-lhe um braço”.

“Toda a população tinha conhecimento desta situação, mas ninguém teve coragem para denunciar o problema. Chegámos a equacionar fazer um abaixo-assinado com o intuito de o expulsarmos da aldeia. Ele batia-lhe com ripas de madeira, correntes de motossera e outros objectos”.

“Sempre disse que a pobre coitada, um dia, ia morrer. Afirmei centenas de vezes e ninguém quis acreditar”, reforça Cipriano Pereira.

Pedro Fontes da Costa
pedro@jb.pt
Diário de Aveiro



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