Aos 32 anos, Paulo Sérgio, defesa central do SC Fermentelos, não tem dúvidas que ainda tinha muito para dar ao futebol, mas, no último jogo do campeonato, contra o Fajões, decidiu que aquele era o seu último jogo oficial. A vida profissional e familiar falaram mais alto. Jogador que primou sempre por uma conduta irrepreensível vai deixar saudades a colegas e adversários, pois sempre foi um atleta respeitado e acarinhado por todos. Fim de um ciclo Em dezassete anos de carreira, Paulo Sérgio jogou 12 anos no Fermentelos, o clube do seu coração. Uma época no Vaguense e quatro no Alba fazem parte das suas passagens como futebolista. Diz que não abandona por se sentir amargurado com ninguém, se foi ou não reconhecido. Nada disso lhe interessa. Sai de consciência tranquila e de ter dado sempre o seu melhor em prol do Fermentelos. -O que o levou abandonar o futebol, aos 32 anos? -Foi uma opção pensada há meia dúzia de meses. A vida profissional e familiar começava a exigir um pouco mais de mim, com pena, mas tive que deixar o futebol. -Quando é que a comunicou? -No último jogo, contra o Fajões, ao plantel. Alguns colegas tinham conhecimento da minha decisão, não queriam acreditar, a reacção foi comovente. No final do jogo, dei a camisola a um tio meu, João Reis, que é como se fosse um segundo pai, pessoa que sempre vibrou com as minhas exibições, e aí também os adeptos sentiram que aquele tinha sido o meu jogo de despedida. -Não é uma decisão precipitada? -Não. Não foi tomada em cima do joelho, foi pensada desde o início da segunda volta. -Mas não sente capacidade para continuar a jogar mais uns anos? -Sinto, talvez mais uma ou duas épocas, mas ao mesmo tempo sei que saio no topo, em grande, não me quero andar arrastar. -Mas se ainda está no pleno das suas faculdades por que abandona? -Não desminto que tenha capacidade para continuar a jogar, mas a forma como certa gente encara um campeonato deste tipo, em que para alguns tanto faz ganhar como perder, para mim, não dá. -É uma posição irreversível? -Neste momento, é. Passei várias horas do dia a dia a medir os prós e os contras, e cheguei à conclusão que era mesmo o final da carreira. -E, se for pressionado? -Não quero ser. Fui pressionado pelos meus colegas, quando lhes comuniquei a decisão. Isso comoveu-me bastante, só que a decisão está tomada. -Sente-se um símbolo do clube? -Acho que tive alguma importância neste ciclo do clube, mas tenho a perfeita noção que houve grandes referências que passaram pelo clube, ao longo dos seus 76 anos, que me ensinaram a respeitá-las. Uma delas é o Maneta, que foi como um padrinho para o meu trajecto. Na altura realizei o sonho de jogar ao lado dele. O balanço é extremamente positivo -Que balanço faz destes dezassete anos? -O balanço é extremamente positivo. Mesmo hoje, que abandono o futebol, continuo a pensar que o futebol tem muito mais coisas boas do que más. Os amigos que fiz são património que jamais esquecerei. -Sente que passou ao lado de uma grande carreira? -Não. Cedo tive a noção de que na posição específica em que jogava, uma das grandes pechas era a falta de velocidade. Daí ter sempre em mente que não poderia ir longe. -Pensa ficar ligado ao futebol? -A médio prazo, não, só a pagar bilhete. Falta-me saber como é que vou reagir quando voltar a ver jogar alguns colegas meus e ex-colegas. -Que histórias guarda na memória? -Uma das maiores alegrias foi quando fomos jogar a Calvão e ganhámos com um golo apontado, já passava da hora. Essa vitória deu-nos acesso à poule final. A maior tristeza? Sempre que perdia ficava triste, mas aquele jogo na Mourisca, para a poule final, onde perdemos 5-2 e, eu estive mal em dois golos, ficou-me atravessado na garganta. Caixa Aprendi com todos -Qual o treinador que mais o marcou? -Tive vários, aprendi com todos, em todos tenho um amigo, mas Fernando Silva foi o que mais me marcou. Não tive formação, comecei a jogar com 15 anos, e, ao longo dessa etapa, soube lidar comigo, aprendi bastante. O Fernando Silva marcou-nos um ciclo, e os jogadores da altura, todos os anos, fazem um convívio para contar as nossas passagens. Caixa Nelson Lemos o melhor central -E jogadores? -O Nelson Lemos foi, para mim, o melhor central; o Maneta uma referência e o Amorim ajudou-me a crescer como homem. Com o Nazaré, acho que jogava de olhos fechados. Não me posso esquecer do meu último colega, o Zé Eduardo, que tem qualidades para pisar outros palcos. A todos eles o meu muito obrigado por tudo aquilo que me ensinaram.
Manuel Zappa Mensagem -Quero agradecer todo o apoio que me manifestaram ao longo destes anos. Jamais esquecerei o dia em que tomei a opção no meu primeiro ano de Alba, de não jogar contra o Fermentelos, e fui aplaudido, quando passei em frente à bancada. Foi uma atitude que guardo com gratidão. Aproveito para lhes pedir que apoiem o clube, sempre da mesma forma como ele merece.Diário de Aveiro |