Sufoca-se nesta crise que tem alastrado e como epidemia se estende a todos os sectores da sociedade e condiciona e manieta a vida do dia-a-dia dos pobres mortais, pagadores de impostos e sempre devedores de qualquer coisa. Tornou-se habitual o fechar de empresas, a perda de postos de trabalho. Poucos se podem considerar seguros no seu emprego que se tornou precário, sujeito a contratos a prazo. O abaixamento da economia, o desnível vergonhoso entre o que se produz e o que se consome, são índices com que diariamente nos debatemos. E quase tudo se importa, enquanto pouco ou nada se exporta. Há uma minoria crescente de ricos nababos, acumuladores de riquezas, ao lado de maiorias esfomeadas, de bolsos vazios, lutadoras, em vão, por futuros cada vez mais utópicos e quase nunca alcançáveis. Crise de valores - não nascem crianças e as que se geram ainda correm sérios riscos de não nascerem. Fecham-se escolas e descobrem-se novas pistas de criminalidade. Diminui a população jovem activa e aumentam os velhos, os desempregados e os marginalizados. As prisões abarrotam de preços e cada vez se interceptam mais carregamentos de droga. Droga que alguém compra e muitos consomem. As famílias fazem-se e desfazem-se, quase sempre ao ritmo de precárias economias domésticas e também de caprichos e birras de egoísmos e instintos mal controlados. Os pais não têm mão nos filhos e já quase se conformaram por terem perdido o comboio em que há muito vão embarcando os seus descendentes. Ventos de destruição sopram de todos os lados, abanando e fazendo ruir alguns restos de dignidade humana. Tudo se põe em causa, tudo se questiona, se discute e se aprova ou reprova, tantas vezes, consoante as cores e os sabores das muitas politiquices de algibeira. Quase nada é seguro e estável. Vive-se ao sabor de marés que vão e vêm e, por vezes, ocasionam autênticas reviravoltas que desencadeiam safanões que vão abanando cada um, quando menos se espera. E, no meio de todo este triste cenário, não raro vão ecoando algumas vozes chamando à razão e alertando as consciências - “é preciso unir esforços para vencer a crise. Só com a união de todos conseguiremos superar os nossos atrasos, recuperar a nossa economia, melhorar as condições de vida, ganhar a batalha da educação”. Todavia, qual é a realidade? Em vez da conjugação de esforços num mesmo sentido - superar ou vencer a crise, a que assistimos? As discussões estéreis e inúteis despiques, batalhas laudatórias sobre os mais diversos assuntos, com recriminações mútuas, sem sentido, e extemporâneas, dando a impressão de continuarmos em campanha eleitoral. Enfim, será o que merecemos?! Mas, pasmem os leitores: eu, na minha ignorância, pensava que, após cada resultado eleitoral, todos esqueciam desavenças e querelas partidárias de campanha e, sem os costumados mimos insultuosos, iriam pôr em comum, ao serviço do país e da comunidade, o que de melhor cada qual pudesse dar para, em convivência leal, sincera e transparente, construir, ou ajudar a construir, uma nova sociedade - mais justa, solidária e criativa. Como estava enganada! Bem se vê que cada vez percebo menos de política! Que ignorância a minha!
Rosinda de Oliveira* *EscritoraDiário de Aveiro |