JOSÉ MAÇAS DE CARVALHO EXPÕE NO CCB

O anadiense José Maças de Carvalho é um dos quatro fotógrafos portugueses seleccionados para participar na final da segunda edição da exposição fotográfica do Prémio BES Photo, patente ao público, no Centro Cultural de Belém, até ao próximo dia 5 de Março. Uma exposição que apresenta quatro propostas diferentes, de quatro jovens fotógrafos nacionais: José Maças de Carvalho, António Júlio Duarte, Paulo Catrica e José Neto.

Um prémio, que é o resultado de uma parceria entre o Banco Espírito Santo, que se tem assumido como um mecenas da fotografia, e o Centro Cultural de Belém, que visa dar projecção ao trabalho desenvolvido por fotógrafos nacionais.

Dar projecção ao trabalho desenvolvido por fotógrafos nacionais

A exposição, que foi inaugurada, no passado dia 20 de Janeiro, é o resultado de uma selecção (por nomeação) de quatro artistas nacionais, escolhidos por um Júri de Selecção que integrou Miguel Amado, Miguel von Hafe Pérez, David Barro, Sandra Vieira Jurgens e Margarida Medeiros.

O júri, durante um ano (de 1 de Julho de 2004 e 30 de Junho de 2005), avaliou todas as exposições fotográficas, patentes ao público, em Portugal, e daí escolheu quatro nomes de referência para esta recta final do concurso, “artistas considerados os criadores das mostras de maior interesse no domínio da fotografia portuguesa actual.”

A particularidade deste concurso prende-se ainda com o facto dos artistas terem sido nomeados por uma determinada exposição, em que participaram, durante a época anterior (2004/05).

No caso de José Maças de Carvalho, o trabalho que resultou na sua selecção esteve patente ao público, no espaço “Plataforma Revólver”, de uma Galeria de Lisboa, espaço este de exposição independente, onde o anadiense Maças de Carvalho participou numa exposição colectiva, que integrou 10 fotógrafos nacionais: “penso que o júri me escolheu, não só pelas minhas fotografias patentes na exposição, como também pelo facto de ter sido eu a organizar e a construir aquela exposição”.

Para esta recta final, a exposição, patente no CCB, integra apenas novas peças, ou seja os quatro artistas foram convidados a elaborar uma nova exposição, tendo cada um deles recebido 3.500 euros para elaborar uma nova produção.

Refira-se ainda que o anadiense Maças de Carvalho, professor na Escola Secundária de Anadia, terá, agora, de aguardar até ao próximo dia 14 de Fevereiro para saber quem é o vencedor que irá arrecadar um prémio de 15 mil euros.

O Júri de Premiação, composto por Isabel Carlos, Bernardo Pinto de Almeida, Paul Wombell, Ute Eskildsen e João Mário Grilo, terá assim a árdua tarefa de, no próximo dia 14, escolher o vencedor do Prémio BES Photo 2005.

Orgulhoso pelo reconhecimento

A JB JoséMaças de Carvalho confessou-se “orgulhoso” pelo seu trabalho ter sido “reconhecido por tão ilustre júri”, completamente independente e conhecedor de arte, mas também porque, desde 2001, tem aparecido, essencialmente, como vídeoartista, tendo apresentado, ao longo destes últimos cinco anos, sete instalações vídeo. Embora seja conhecido como fotógrafo, admite também ser “cada vez mais conhecido como videasta”, pelo que considerou a sua escolha “refrescante”, até para o júri veja que “ainda faço fotografia, embora há cinco anos não mostrasse novas fotografias”.

“Democracia e Imagem” - tema da exposição

José Maçãs de Carvalho concorre ao prémio BES Photo com a proposta: "Democracia e Imagem”, numa projecção conjunta de fotografia e vídeo, tendo avançado ainda ao nosso jornal que “este trabalho do CCB é uma síntese de vários projectos de arte pública, ou seja, em que eu uso fotografia e intervenções no espaço público, efectuando interpelações ao espectador, implicando-o e comprometendo-o, pois é exigido ao espectador uma acção, já que a obra só se conclui com a participação do espectador e com preocupações relativas aos limites da imagem, já que a imagem aparece como valor estético mas também como valor comunicacional”.

“No fundo”, disse ainda “o que pretendo sempre é utilizar a arte como estratégia comunicacional, por forma a que o espectador não fique indiferente e apático, na contemplação da obra de arte”.

Assim, o seu trabalho reparte-se por duas salas contíguas: uma de vídeo, “porque é um instrumento do nosso tempo; porque a obra precisa ter o acento da actualidade; e porque permite recuperar, para a imagem fotográfica, o movimento, o som, a audição - apesar de ser um vídeo mudo -; noutra, uma projecção de fotografias (a preto e branco e cor) com um carácter mais interventivo, nas quais o artista coloca questões ligadas à política, à psicanálise e à sociologia.

“As Imagens são as Palavras dos Analfabetos”

No vídeo, de 42 segundos, que intitulou de: “As Imagens são as Palavras dos Analfabetos” (expressão utilizada sobre os vitrais medievais), uma modelo tenta dizer em linguagem gestual, de voz e mímica (linguagens limite) e numa forma derradeira, a própria frase que intitula o vídeo: “As Imagens são as Palavras dos Analfabetos”, transmitindo, no fundo a própria ironia, “num certo desespero comunicacional, tão actual nos nossos dias”.

Segue-se um espaço onde dois monitores passam slides, com 36 fotografias, retiradas nos últimos 10 anos por Maças de Carvalho. Fotografias que, segundo o autor, “têm algo de contravisual, pois são fotografias que, em comum, têm algo de contravisual, ou seja, não são bem aquilo que parecem”, sublinhou, referindo ainda tratarem-se de “imagens onde existe algo que é perturbador dos sentidos.”

Seis mil fotografias para oferecer

José Maças de Carvalho possibilita ainda que o espectador escolha, retire de dentro de um enorme caixote de papelão e leve para casa uma (e apenas uma) fotografia, assinada por si - traduzindo assim a ideia do projecto: “A democracia da Imagem”. São seis mil fotografias (tantas quanto o número de visitantes esperados), em 13 séries, podendo cada um dos visitantes escolher e levar uma obra de arte para casa. Aqui Maças de Carvalho volta a colocar uma questão ao espectador, “obrigando-o” a agir, a escolher, provocando-lhe angústia na escolha mas também colocando a grande questão da “reprodutibilidade” de uma obra de arte: “qual é o sentido de utilizarmos a fotografia como obra de arte e objecto único se a sua própria natureza é a da reprodutibilidade?”

Acrescente-se ainda que, este ano, José Maças de Carvalho irá participar ainda numa exposição com vídeos em Moscovo, na Trianal de Luanda e em Madrid.

“É o projecto da minha vida”

O maior trabalho fotográfico de Maçãs de Carvalho, em curso, prende-se com um projecto (que só será concluído em 2009) que está a realizar em Macau, desde 1998. Todos os anos, José Maças de Carvalho regressa a Macau, para fotografar 10 ex-alunos seus, do Ensino Politécnico de Macau, que pretende acompanhar no seu quotidiano durante 10 anos. O resultado será uma mega-exposição e um livro: “é o projecto da minha vida e visa fazer uma abordagem sobre a evolução de 10 macaenses, ao longo de uma década de 10 macaenses, de Macau e da própria China”.


Catarina Cerca
Diário de Aveiro



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