Teve lugar, na Estalagem da Pateira, no último sábado, dia 28 de Janeiro, a realização do Primeiro Grande Capítulo da Confraria da Terra cujos confrades juraram solenemente ter como lema “p’la tradição e costumes, p’la cultura e gastronomia”. Um “dia marcante” para este punhado de jovens que vão mostrar amor à sua terra e suas gentes, registando muitos dos seus passos, para o enriquecimento da memória colectiva. Preservar heranças A Confraria da Terra, que tem como símbolo a Pateira, pode dizer-se que teve o seu nascimento oficial naquela noite de grande significado para aqueles que abraçam sonhos e projectos. Os objectivos são muito concretos: “promoção, divulgação, valorização e defesa do património paisagístico, turístico, arquitectónico e cultural, nos costumes, gastronomia e nas romarias, herança gastronómica que atravessou gerações e que, incólume, senão mais rica há que legar aos vindouros, como património cultural que define um honrado e meritoso ser e estar das gentes desta terra”. Aliás, o mote foi dado de dois modos: um aperitivo gastronómico, onde não faltou a enguia frita, e outro de ordem cultural, onde todos puderam rever a tradição da apanha do moliço, a 8 de Agosto, evento que constituía uma verdadeira festa que começava com o toque dos sinos e acabava, à tarde, depois de carregadas as lanchas de moliço para as margens, à beira das águas limpas da Pateira - um filme que tem a feliz idade de vinte e cinco anos. Todos puderam recordar ainda alguns artesãos, nomeadamente tecedeiras, esteireiras e ferreiros. Segundo Jorge Humberto, um dos confrades fundadores, as primeiras preocupações vão passar exactamente por fazer o registo da cultura do milho e da vinha, com todas as fainas correspondentes, antes que os últimos resistentes partam para outras pátrias. “Votá-la ao lembramento” Antes do ritual da entronização dos confrades, usaram da palavra Manuel Couceiro, em representação da Confraria Gastronómica da Raça Arouquesa, e Armando Fernandes, da Confraria Gastronómica do Ribatejo, vice-presidente da Federação Nacional das Confrarias, que historiou um pouco as confrarias, ao longo dos tempos, e seus concretos objectivos que vão muito para além da convivialidade. Relativamente à Confraria da Terra deixou um grande incentivo ao trabalho de levantamento de usos e costumes, registos na área cultural e de gastronomia, exactamente alguns dos objectivos da nóvel confraria. O guardião-mor da Confraria da Terra, no uso da palavra, salientou que um dos objectivos é preservar a beleza que envolve Fermentelos, com centro principal nas águas da Pateira (bem sujas e morrendo nas raízes de milhões de jacintos...), pois, frisou, é necessário “votá-la ao lembramento”, fazendo da lagou uma centro de actividades, aproveitando os recursos naturais. A fundação assenta na “amizade que vem de longe e esconde orgulhos”, a amizade entre os sócios fundadores a que se juntam agora novos confrades com novas expectativas e novas sensibilidades para um movimento maior e melhor. “ Frater est” Tendo como madrinha a Confraria Gastronómica da Raça Arouquesa (Arouca) e como testemunhas as confrarias da Fogaça (Vila da Feira), Nabos (Mira), Almas (Aguada de Cima), Moliceiro e Académica (Aveiro), da Morcela, Confraria Gastronómica do Ribatejo, da Morcela e outras, bem como alguns políticos (presidentes da câmara de Águeda e da Junta de Fermentelos, respectivamente, Gil Nadais e Amílcar Lemos), decorreu, com toda a solenidade, o ritual da entronização, presidida por Dario Tomé, de Arouca, mas um amigo de Fermentelos, desde o tempo de estudante em Coimbra, não só dos confrades fundadores, que ficaram os responsáveis pela direcção, mas também dos novos - uma plêiade de jovens que sonham e projectam melhores dias para a terra berço. O Conselheiro-mor da confraria madrinha, Dario Tomé, instalou (deu posse) os primeiros quatro elementos: Artur Jorge Nolasco das Neves Condesso (guardião-mor), Victor Gomes Ferreira (chanceler-mor), Brito António Rodrigues Salvador (auditor-relator) e João Pedro Lemos de Vasconcelos (mestre de cerimónias). Feito o compromisso, a quatro, fez a entronização dos restantes confrades Artur Condesso que confirmava a entrada de cada um na Confraria da Terra, tocando com a vara (rememorando a vara utilizada nas lanchas) no ombro direito e esquerdo, depois de cada um dos confrades ter envergado o trajo (gabão), encerrando este ritual sempre com as mesmas palavras: “frater est” ( confrade és). Eis os magníficos que foram sendo investidos: Carlos Neves (vice-chanceler); João José Pires (chanceler adjunto); Jorge Humberto Carlos das Neves (secretário da chancelaria); Nelson Figueiredo, (1º auditor); Alcides Simões Cardoso (2º auditor); Hélder Fernando Ferreira Nolasco (3º auditor). Este é o naipe dos fundadores. Seguiu-se a entronização dos novos confrades; Álvaro Manuel Folhas Ferreira, António Cardoso Lemos, Carlos Alberto Inácio, Fernando Lemos Neves, Fernando Manuel Henriqures Silva, Gil Dias Lemos, João Manuel Pires Condesso, Luis Manuel Martins, Manuel José Sá Pereira, Moisés Pires das Neves, Nuno António Evangelho Condesso, Paulo Jorge Lameiro Carvalho, Ramon Poças dos Santos, Rui Manuel Nolasco Pires Martins, Rui Vidal Urbano e Sérgio Nolasco Dias. Investidos, todos em uníssono, não proclamaram apenas o lema, mas juraram comprometer-se “a contribuir na medida das minhas possibilidades para a promoção, divulgação, valorização e defesa do património paisagístico, turístico, arquitectónico e cultural, nos costumes, na gastronomia e nas romarias” Armor Pires MotaDiário de Aveiro |