De 18 a 25 de Janeiro, a igreja católica e outras confissões religiosas viveram, em espírito de partilha e ecumenismo, a semana de oração pela unidade dos cristãos.. No arciprestado de Oliveira do Bairro esse espírito e anseio estiveram bem patentes na celebração que teve lugar no último domingo, dia 22, na igreja matriz de S. Miguel desta mesma cidade. Momentos tocantes O tema, para todo o mundo, este ano foi “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” e daí a celebração ecuménica que decorreu, no último domingo, na matriz de Oliveira do Bairro - “sinais visíveis” desta realidade. Foi uma missa diferente, solenizada e enriquecida sobretudo com textos bíblicos. Este tema foi escolhido por responsáveis de várias confissões religiosas, que, propositadamente, reuniram na Irlanda do Norte, um país onde são sentidas sentida ao vivo a divisão e a guerra entre católicos e protestantes. Foram essas entidades que escolheram as leituras e outros textos para que houvesse unidade na palavra. Também os cânticos, acompanhados a órgão, foram previamente escolhidos, todos tendo um só sentido, sobretudo os cânticos do Ofertório e da Comunhão: “De mãos dadas iremos, somos todos irmãos” ou “há um só corpo e um só espírito”. Marcou presença o bispo emérito da igreja metodista - igreja que nasceu em ambiente anglicano - Ireneu da Silva Cunha, agora a residir na cidade de Oliveira do Bairro, e que “concelebrou”, ao lado direito do pároco, padre António Cruz, bem como alguns membros marcaram lugar na assistência. Considerou a missa como o ponto mais alto de toda a liturgia. Católicos e metodistas rezaram e cantaram, a uma só voz, e as leituras foram feitas, ora por uns ora por outros. A oração dos fiéis foi centralizada na necessidade do estabelecimento do espírito ecuménico. Momentos tocantes foram a reza do Pai-nosso de mãos dadas e o abraço da paz entre o bispo e o pároco e entre o bispo e os católicos e entre o pároco e os membros da igreja metodista ali presentes. Unidade na multiplicidade A leitura do Evangelho ( a magnífica e pedagógica lição do bom samaritano) coube ao bispo Ireneu da Cunha, que, depois, pregou a palavra, à volta do tema, começando por afirmar “a graça e a paz sejam convosco, nesta manhã e sempre”, para acrescentar: “tenho a alegria e o prazer de estar convosco”. Agradeceu mesmo o convite para estar presente da parte do padre António Cruz “cuja largueza de espírito reconheço”, mostrando-se “ alegre no Senhor” por estar presente numa cerimónia que, pela primeira vez, se realizava na igreja da freguesia de Oliveira do Bairro, ainda que a oração pela unidade dos cristãos já tenha uma longa história e seja muito significativa em Portugal,. Abordado o tema, considerou que “estes dias são vividos em espírito de união e na expectativa. Vive-se hoje uma união significativa, depois de muitos anos de esforços. Todavia, havia de frisar que, se de início, se defendia o regresso dos irmãos protestantes aos braços da igreja católica, hoje a ideia é respeitar as diferenças - ritos diferentes, práticas diferentes, disciplina diferente - “mas a fé a mesma”. É a unidade na multiplicidade. Assim sendo, “estamos todos a convergir para Cristo” - afirmava o bispo Ireneu da Cunha, para concluir, na mesma linha de ideias: “quanto mais próximos estamos de Cristo, mais fácil é ver os méritos que os outros têm”. Para isso é necessário que cada um saia da sua concha. “Eu próprio saí do meu cacifo e abri-me ao diálogo”. O que hoje é feito não é mais do que um chamamento à paz, ao amor, à compreensão, de modo que sejamos mais cristãos, mais fraternos e amigos”. Ainda a propósito das relações inter-religiões, considerou que grandes passos já se deram no campo da oração e vivências, mas ainda falta a inter-comunhão. Quem se mostrava satisfeito foi o pároco que, no final, agradeceu a presença do bispo, afirmando entretanto que “este passo é mais um passo na caminhada comum”, ao mesmo tempo que anunciava para os próximos anos outros encontros de oração, com outras igrejas protestantes, “em espírito de fraternidade cristã”. Passos e sombras “A melhor forma de Ecumenismo consiste em viver segundo o Evangelho”, diz o papa Bento XVII para quem travar o diálogo não significará renegar a própria história da fé nem significa uniformidade em todas as expressões de teologia e da espiritualidade, nas formas litúrgicas e na disciplina - “é antes unidade na multiplicidade e multiplicidade na unidade, intercâmbio de pensamentos e de dons, é oração, santificação, conversão”. Bento XVI vai mais longe e afirma, a propósito: “as nossas divisões estão em contraste com a vontade de Jesus e fazem com que não sejamos fidedignos perante os homens. Sendo que deveríamos empenhar-nos com renovada energia e dedicação a dar um testemunho comum no âmbito destas grandes desafios éticos do nosso tempo” Este caminho tem luzes (reconhecidas) e algumas sombras. No primeiro caso tem, segundo o cardeal Walter Kasper, os diálogos internacionais e regionais eliminado muitos desentendimentos e preconceitos e estabelecido amizades; “ a convivência e colaboração ecuménicas passaram a pertencer à vida da igreja, nas paróquias e nas dioceses ao mesmo tempo que fomentou oração comum e “redes espirituais”, entre mosteiros, conventos, comunidades e movimentos. Nas sombras, a maior encontra-se no “fundamentalismo exercido por seitas antigas e novas, com as quais não é possível, na maior parte dos casos, estabelecer um diálogo que se distingue pelo respeito”.
Armor Pires MotaDiário de Aveiro |