O DESEJO DE ESPERANÇA PERCORRE AS NOSSAS ARTÉRIAS

O desejo de esperança percorre as nossas artérias. Sentimos e escutamos por estes dias, em todo o lado, a expectativa de um ano (mesmo) novo. Todavia, o receio de não conseguirmos superar trava o alcance do sonho, e coloca-nos diante da dúvida acerca dos melhores dias esperados.

Após o silêncio familiar e meditativo da quadra natalícia, e não sabemos se como preparação da passagem de ano ou se já pelo gosto imprescindível em viver do conflito, eis que naturalmente regressou a confusão, a política presidencialista com as suas polémicas vírgulas (depois de um ano político especial?), o resultado em números dos milhões de mensagens de natal, as notícias do nosso rico país dos hotéis lotados na Serra da Estrela ou das mil viagens de créditos sem juros em que muitos concidadãos gastam e vivem do incerto futuro. Em muitas destas coisas (acessórias) somos recordistas, medalha de ouro em termos europeus; noutras, falta-nos ainda a altitude cívica do compromisso diário, da ordem das prioridades a assumir.

Um ano termina e um ano começa. Os anos, mesmo com a carga simbólica que tem o mudar de calendário, essencialmente foram, são e serão dias. Ao olhar para trás fica no registo dos anais da história que 2005 foi um ano de violentas tragédias naturais, a par da crescente visibilidade do escândalo das questões humanitárias à escala global.

Há um ano atrás estávamos todos a olhar e chorar com a Ásia, comovidos diante do limite humano simplesmente varrido pelo Tsunami; tragédia natural que também visitaria a costa americana meses depois pelo furacão Katrina, fenómeno da natureza que ganha “força” em proporção com o aquecimento do planeta. Mas não foi só lá longe que o “medo” pairou: lembrámos também nós a data especial que nos faz arrefecer a espinha, os 250 anos do Terramoto de Lisboa, que levou pelo mar dentro (a 1 de Novembro) a Lisboa medieval.

Também, fica-nos na memória a crescente incerteza europeia, carimbada pelo “não” francês ao referendo e acentuada nas complexas questões orçamentais, salvas já depois da última da hora, onde os novos países pobres europeus dão lições de disponibilidade aos poderosos dos “gordos” cheques. Pobres e desprotegidos mas agrupados que fizeram de França, por um mês, o país mais assustado do mundo, uma revolução de desagregação social da chamada (erradamente) “escumalha”. Terá ficado a lição da urgente integração, acolhimento, conhecimento, inclusão?para ser possível depois a vivência dos pressupostos da liberdade e responsabilidade sociais da parte das comunidades que hoje dão os seus filhos à Europa.

2005, para além de ser o Ano Internacional da Física (lembrando Albert Einstein), terá sido o ano de João Paulo II, personalidade-líder-místico especial que (para além de questões complexas dentro da Igreja por resituar no séc.XXI), vindo de ambiente polaco pós-guerra, dobrou as tormentas do Leste à esperança, abrindo o próprio mundo à Era Global para um desenvolvimento harmonioso, apontando um futuro de atenção especial ao continente africano (o mais visitado pelo homem Woityla que deu mais de trinta voltas ao mundo a proclamar a Paz de Deus). Não deixa de ser significativo que a personalidade do ano 2005 pela Time, Bono Vox, vocalista dos U2 que esteve em tempos com João Paulo II (e em Portugal no concerto de verão) tem hoje uma máquina fortíssima de sensibilização mundial a fim de ser possível terminar com a fome / pobreza em África. Diz ele próprio que há anos era “missão impossível”, hoje está ao alcance da humanidade. Considera mesmo em seu escrito (Visão, 22 Dez.) ser essa “a viagem à Luz desta geração”.

Como será 2006? Que desejar para o novo ano? Claro está que o que se deseja deve-se construir todos os dias! O nosso próprio futuro precisa de nós mesmos. Nenhum acto mágico solucionará as questões fundamentais da vida, nem mesmo a lotaria. Se ao desejo de um Bom Ano vai o compromisso dos sentimentos mais nobres de paz, esperança, alma ardente lutadora por um mundo bem melhor, então tudo faz sentido. Mas se ao bom ano equivale só o champanhe? então tudo fica na mesma e o novo ano já é velho. É por isso que, como dizem as nossas gentes, Ano Novo, Vida Nova!

2006 - Ano Internacional dos Desertos e da Desertificação, para além do Rali do deserto Lisboa - Dakar (!), terá muito a dizer em termos de um desenvolvimento mais equilibrado no nosso próprio país; já que existe, talvez também no futebol o Mundial da Alemanha 2006 possa ser mobilização e entusiasmo; ficou-nos um refrão do caso de estudo Euro 2004, em que o cantor dizia: “Menos ais, menos ais, menos ais!”. Sempre a dizer “ai” a lado nenhum se vai!!...

Aposto que com 365 dias de esperançae força em 2006, quando dermos por isso os dias serão mesmo melhores! Claro, em imensas causas, casas e ‘coisas’, no que for possível? semeando esta chama de Vida Nova!

Alexandre Cruz*
*Centro Universitário de Fé e Cultura
Diário de Aveiro



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