A interdição da apanha de bivalves na Ria de Aveiro por excesso de toxinas, que dura há quatro meses e está a deixar desesperados os pescadores, levou hoje uma organização do sector a reclamar medidas urgentes ao Governo. A cooperativa de produtores "Vianapesca", que diz representar um terço das embarcações e mariscadores que operam na Ria de Aveiro, apontou hoje o que classifica de "desinformação e manipulação das comunidades piscatórias" em torno das análises que determinaram a interdição temporária da captura. Ao mesmo tempo que enaltece o trabalho de segurança alimentar que o Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR) está a desenvolver, aquela organização reclama do Governo um conjunto de medidas para compensar os mariscadores. Licenciar redes de pesca como alternativa, aumentar para 100 quilos o limite da apanha do berbigão, a extensão às águas interiores da Ria do Fundo de Compensação salarial, com efeitos retroactivos a Agosto, são algumas acções propostas. A "Vianapesca" classifica como catástrofe a situação social das comunidades piscatórias que estão privadas de sustento devido à interdição, "que se arrasta desde Agosto, empurrando as famílias para a miséria absoluta sem qualquer iniciativa do Ministério da Agricultura e Pescas". Aquela organização de produtores reconhece que não se pode tolerar que um alimento contaminado possa ser comercializado e dá conta de que as análises que mandou efectuar conduziram a resultados idênticos aos do IPIMAR. Revela, por outro lado, que "apareceram análises com resultados negativos de outros laboratórios, mas ninguém sabe de onde vieram esses bivalves", sublinhando que a recolha implica a indicação às autoridades da embarcação, local, hora e espécie da captura, para merecerem crédito. Hoje mesmo a deputada do PSD Regina Bastos e o presidente da Câmara da Murtosa, Santos Sousa, tiveram um encontro com um grupo de pescadores da Torreira para se inteirarem da situação. A deputada do PSD prometeu levar o assunto à Assembleia da República e pedir esclarecimentos ao Governo sobre se tenciona ou não atribuir um subsídio excepcional aos agregados familiares afectados pela interdição da apanha de bivalves. O presidente da Câmara da Murtosa comunicou aos pescadores da Torreira que tem agendada uma reunião quinta-feira na delegação de Aveiro do IPIMAR para tomar conhecimento das razões da interdição, dada a desconfiança instalada pela divulgação de análises contraditórias. Segundo dados de outra organização de pescadores, a Associação de Pesca Artesanal da Região de Aveiro (APARA), existem 800 embarcações de pesca activas na Ria de Aveiro, 268 das quais estão licenciadas para a apanha de bivalves. Até 11 de Agosto, quando foi declarada a interdição pelo IPIMAR, a lota da Torreira tinha registado em vendas 1,300 milhões euros, que corresponde a mais de 50 por cento do total da Ria de Aveiro.Diário de Aveiro |