Portugal deverá fechar o ano de 2005 com um recorde de emissões de gases poluentes, ao ultrapassar os valores de 43,8 por cento registados em 2002, revela uma projecção divulgada hoje pela associação ambientalista Quercus. Os cálculos da associação da conservação da Natureza baseiam- se na análise da evolução da libertação de dióxido de carbono em dois sectores de actividade que representam 55 por cento das emissões totais no País: a produção de electricidade pelas centrais térmicas e a venda de combustíveis no sector automóvel. Ao comparar o volume de emissões de gases poluentes em 2002 - o ano em que Portugal registou o crescimento mais elevado (43,8 por cento acima do ano de referência de 1990 estipulado no Protocolo de Quioto), esta associação verificou que nos primeiros onze meses de 2005 se registou um aumento de 11 por cento nas emissões de carbono provenientes da produção de electricidade. Já nas emissões pelo uso de gasolina e gasóleo no sector dos transportes, verificou-se uma descida de 2,3 por cento entre Janeiro e Setembro. Devido à maior ponderação do peso das emissões na produção eléctrica face ao sector de transportes, a Quercus prevê que, no final do ano, a libertação de dióxido de carbono registe novo recorde de crescimento, devendo situar-se "algumas unidades acima de 44 por cento". Em declarações à Agencia Lusa em Montreal, Canadá, Francisco Ferreira, dirigente da Quercus, realçou que "o ano de 2005 irá marcar definitivamente Portugal em termos de alterações climáticas - um ano de seca, de incêndios, e também o ano recorde de emissões de gases de estufa". "Apesar da situação de seca que agravou muito as emissões das centrais térmicas, Portugal tem problemas estruturais de que tem de resolver, como seja o aumento excessivo do consumo de electricidade e enorme dependência do automóvel. Portugal, como já apontado pela Agência Europeia do Ambiente na passada semana, não está no caminho para cumprir Quioto e é preciso não perder mais tempo para tomar medidas", acrescentou. Francisco Ferreira representa a Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza na Conferência da ONU para as Alterações Climáticas, a decorrer na cidade canadiana de Montreal até 09 de Dezembro, sendo a única associação ambientalista portuguesa presente no evento. Para a Quercus, o aumento das emissões poluentes em Portugal em 2005 é causado sobretudo, pela severa seca verificada ao longo do ano, o que obrigou ao maior recurso das centrais térmicas ("alimentadas" a carvão e a fuel) para a produção de electricidade. Esta associação ambientalista responsabiliza ainda os sucessivos Governos pela falta de politicas desincentivadoras do uso de automóveis e falta medidas de racionalização do uso na energia, assim como políticas promotoras da expansão das energias renováveis em Portugal. Devido à seca no País, de Janeiro a Novembro de 2005, a produção de electricidade via centrais hídricas caiu 56 por cento face a igual período de 2004, "pelo que as emissões de dióxido de carbono equivalente aumentaram 28 por cento em relação ao ano passado", refere. Portugal comprometeu-se no Protocolo de Quioto a reduzir em 8 por cento das emissões de gases com efeito de estufa até 2012 face a 1990. Contudo, nos termos de uma Directiva Europeia, a União Europeia permitiu a Portugal um aumento de 27 por cento das emissões, compensando com reduções de outros Estados-membros. A par de Portugal, Bruxelas permitiu a mais quatro países dos Quinze o acréscimo das emissões até 2012: a Grécia em 25 por cento, Espanha 15 por cento, Irlanda 13 por cento e Suécia quatro por cento. A 01 de Dezembro, a Comissão Europeia apresentou, durante a Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, um relatório onde estima que Portugal registe um aumento das emissões em 42,2 por cento até 2012, o que o tornará no Estado-membro da União Europeia com pior resultado em termos de crescimento, além de ultrapassar aquele limite de 27 por cento. A previsão do acréscimo de 42,2 por cento inclui o recurso a "políticas e medidas em curso", "medidas adicionais" e a "utilização dos mecanismos de flexibilidade contidos no Protocolo de Quioto". Se consideradas apenas as "políticas e medidas em curso", Portugal atingiria um acréscimo de 52,1 por cento nas emissões em 2012, aponta Bruxelas. Numa reacção a estas previsões, o secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, mostrou-se convicto de que Portugal não atingirá tal resultado, contando com a execução do Programa Nacional de Alterações Climáticas e outras medidas.Diário de Aveiro |