"TOCAR E SENTIR", PATENTE NA BIBLIOTECA DA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

Apreciar pintura de olhos vendados é uma experiência rara que várias pessoas fizeram na inauguração da exposição "Tocar e Sentir", patente na Biblioteca da Universidade de Aveiro.

A exposição, da pintora brasileira Eni Carvalho e especialmente concebida para invisuais, é constituída por um conjunto de obras de pintura táctil e projectada.

Alguns dos visitantes que vêem e que colocaram uma venda nos olhos conseguiram identificar a mensagem de cada quadro, outros não, mas para todos foi uma surpresa interpretar a arte pelo tacto, comentando que "a sensação é totalmente diferente".

O entusiasmo de um casal de invisuais ao "ver" as telas foi contagiante: "deixa ver se há aqui alguma como a nossa", comentou a senhora para o marido, ao passarem pela obra "Tartarugas Marinhas", em que tartarugas de vários tamanhos se sobrepõem em relevo a um fundo azul.

O interesse dele foi mais para o quadro "Estádio da Paz", em que era representado numa textura branca um recinto desportivo: "isto é um campo de futebol. Aqui é a pequena área e é daqui que se marca o penalti", esclareceu.

A excitação chegou ao cão-guia do casal, que ao ver uma bola colada num dos quadros a sobressair de uma raquete ensaiou um salto para repetir brincadeiras domésticas.

Não chegou lá e a obra continua, como as demais, disponível para ser apreciada na exposição, que pode ser vista até ao dia 10.

Maria de Lurdes Ventura, da organização, disse à Lusa que a iniciativa pretende constituir uma oportunidade na área da Cultura para os invisuais, que têm escassas possibilidades de usufruir da arte, mas não só".

"A exposição visa sobretudo sensibilizar o público para a necessidade de não esquecer que há pessoas diferentes que, sistematicamente, vêem os seus direitos postos em causa, sendo o acesso à arte consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem", disse.

"O objectivo é levar as pessoas que vêm com os olhos a vestir a camisola dos que só vêm com o coração", explicou.

A exposição, intitulada "Tocar e Sentir", é explicada aos visitantes em Braille, tendo o espaço sido expressamente preparado para a visita de invisuais, que poderão perceber a mensagem de cada quadro pelo tacto.

O público que não é portador de deficiência visual é também convidado a visitar a exposição, sendo sugerido que antes de ver os quadros percorra o espaço de olhos vendados.

A exposição "Tocar e Sentir" é uma iniciativa de um grupo de estudantes da Escola Superior de Saúde da Universidade de Aveiro, promovida em colaboração com a associação Civitas e com a Associação de Cegos e Ambíopes de Portugal(ACAPO).
Diário de Aveiro



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