CHAMAM-LHE EDUCAÇÃO SEXUAL!

A história recente, bem ou mal contada, mas muito mediatizada, de um jogador de futebol envolvido num suposto escândalo sexual com umas “inocentes”meninas que, supostamente também, foram violadas num hotel, - não sei como é que lá entraram, - talvez violentamente escondidas num saco de desporto transportado pelo próprio, mas sem que segurança desse por tal, - isto até dava para fazer um filme -, leva-me a passar algumas questões para fora. Reflectem a minha opinião e nada mais do que isso, ou talvez não.

Neste país, quando não se fala de aborto, fala-se de educação sexual. Trabalho nas escolas do Estado há muitos anos e sempre abordei os problemas da sexualidade com todos os alunos sem restrições nem reservas, mas sempre com muito respeito e delicadeza, com muita verdade e à vontade.

Estando perante o problema total de ser homem e ser mulher, falar em educação sexual é profundamente redutor, porque a sexualidade é mais que o sexo, tal como a educação é mais que a informação, a ética e os valores mais que os dados científicos. Na minha opinião, e não sou ninguém quando vejo os “iluminados” do nosso mundo social e político a falar sobre o assunto, gostaria de ouvir falar da educação da sexualidade, mais do que do sexo, da educação da linguagem mais do que da língua, da educação física mais do que da musculatura, da educação estética mais do que do simples bom ou mau gosto, da educação da saúde mais do que das doenças, da educação religiosa mais do que dos preceitos, da educação desportiva mais do que dos clubes, da educação política mais do que dos partidos, da educação social e cívica mais do que das exteriores apresentações.

É uma questão de globalidade e não de afunilamento. E querem afunilar tudo, despejando no lixo o bebé com a água de o lavar.

O projecto apresentado de educação sexual nas escolas é verdadeiramente uma barbaridade: para mim, por aquilo que li e vi, trata-se, se, se vier a manter, de camuflada pornografia infantil, com uma linguagem e uma informação verdadeiramente de “carroceiro”, cheia de palavrões e de indecências que fazem corar os mais “batidos”. Tudo é no sentido do corpo e nada no sentido da pessoa. O que parece ser intencional é estabelecer um caminho sedutor e fácil, que possa conduzir a todo o tipo de experiências individuais e relacionais, logo desde o despertar da adolescência.

Uma (des)educação sexual deste tipo, pensada não se sabe por quem, que será ministrada não se sabe por quem, sem ouvir o parecer dos pais, exigido noutras circunstâncias, é uma decisão verdadeiramente antidemocrática, e querer impor este único caminho a todos é claramente ditatorial. Digam-me que o Estado é o dono das escolas e eu digo-vos que também isto é ditadura, porque não há alternativas para o povo. Os grandes da política e da sociedade, que até têm possibilidades de fugir aos impostos, educam os seus filhos nos bons colégios católicos porque não lhes falta “massa” para isso, podendo assim, no futuro, através deles, continuar a comandar as tropas a seu belo prazer. Os pequenos, que até pagam honestamente, embora contrariados, os seus impostos não recebem as alternativas de ensino gratuito a que têm direito, como acontece noutros países da Europa. Serão os tais valores e princípios republicanos por aí apregoados que implicam tal diferença de tratamento?

E agora digam-me: Se toda a orientação sexual publicitária (educativa?) vai no sentido de cedo se começarem as experiências sexuais, se os programas de televisão nos mostram toda a porcaria e muita mesquinhez na forma de abordar tais assuntos, se o que importa é utilizar o preservativo e precaver-se contra uma eventual gravidez na adolescência, para não ter de se confrontar com o problema do aborto, se a moral é apresentada sempre como uma oposição retrógrada e fascizante, se os valores familiares do matrimónio estão fora de moda, se a virgindade é causa de gozo por parte dos mentores de tais projectos, se o sentido da vida se reduz ao sexo e às aventuras sexuais, então, condenar alguém, de maior ou menor idade, que anda por tais caminhos, porquê considerar violação aquilo que é promovido abertamente em campanhas levadas a cabo por instituições que são subsidiadas pelo Estado?

Ou seja, curiosamente, a mesma sociedade que ensina os caminhos, condena os que neles entram, tal como aquele pai que tem revistas pornográficas em casa e castiga o seu filho porque o encontra a vê-las (as suas).

Costa Leite*
*Padre
Diário de Aveiro



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