“COLINAS DE SÃO LOURENÇO” MOSTRAM-SE PROMISSORAS

Encontra-se localizada no coração da Bairrada, rodeada de vinhedos a perder de vista. Falamos do recente projecto do ex-autarca anadiense, Sílvio Cerveira, designado por “Colinas de São Lourenço”. Um investimento que ultrapassou várias centenas de milhares de euros e que tem como principal objectivo fazer vinhos de grande qualidade, numa relação preço/qualidade do mais alto nível, que lhes permita concorrer, quer no mercado nacional, quer no mercado internacional, onde já dá os primeiros passos, nomeadamente em Hong Kong.

Sílvio Cerveira abriu as portas da sua adega, à comunicação social, na última quinta-feira, e falou desta sua nova aventura pelo mundo vínico.

Conquistar o mercado nacional e internacional

Foi na moderna Adega de Vinificação, localizada na freguesia de S.Lourenço do Bairro, que Sílvio Cerveira mostrou como é “fácil” trocar o mundo cerâmico pela vitivinicultura, uma outra paixão que abraçou e onde pretende dar provas.

Para já e num primeiro contacto, os ingredientes para o sucesso parecem estar reunidos - vinhas modernas, com castas seleccionadas, uma adega de vinificação do mais avançado e uma equipa técnica superior - com a entrada em funcionamento das Colinas de São Lourenço.

De acordo com Sílvio Cerveira, “é nosso objectivo fazer vinhos de grande qualidade, que possam ajudar a enaltecer o nome da Bairrada, que neste momento é a região vinícola de Portugal menos amada”. Contudo, não deixou de admitir que “o nosso objectivo principal é a exportação e vamos tentar fazer vinhos de qualidade adaptados aos diversos mercados/alvo internacionais”, até porque, “como a produção ainda é pequena, começamos por Hong Kong, onde abrimos já uma loja própria no centro de Hong Kong “Lam & Cerveira” que começou a desenvolver um trabalho de lançamento dos nossos vinhos, quer a nível de show room, um dos maiores no sector dos vinhos em Hong Kong, como no trabalho de porta a porta, por uma equipa já constituída para o efeito”.

Na verdade, estes primeiros passos parecem ser animadores na medida em que, como sublinhou Sílvio Cerveira, “já se venderam cerca de 10 mil garrafas em pouco mais de quatro meses”, “estando prevista, na próxima semana, uma visita às Colinas de S.Lourenço de 26 professores universitários de Hong Kong, os quais participaram, há poucas semanas, num evento de divulgação dos nossos vinhos e pediram para que nesta viagem cultural a Portugal, ficasse incluída esta visita às Colinas”, referiu o empresário.

Em plena época de recepção de uvas, e com as vindimas a decorrer em pleno, Sílvio Cerveira revelou que este projecto “é a continuação duma pequena Quinta, com cerca de oito hectares que meu pai comprou em 1958, aqui em S.Lourenço do Bairro, mas em relação à qual nunca deu muita atenção, por não ser viticultor. Após o seu falecimento, em Janeiro de 2000, e “com o meu afastamento do mundo cerâmico decidi pegar nisto e fazer aqui um projecto diferente e inovador”, acrescentou.

Até aqui, esta pequena adega funcionou, durante décadas, nos termos típicos da região, ou seja, “eram vinhas quase de casta única, a baga, mas sem qualquer controle ou evolução”, disse, explicando ainda que “nunca engarrafou vinho, nem teve marca própria, pois toda a produção era vendida às caves da região”.

Um processo de remodelação total

Agora, com o nascimento, em 2001, da Sociedade Agrícola Colinas de São Lourenço, foi iniciado um processo de remodelação total e aquisição de novos terrenos com o objectivo de chegar aos 30/35 hectares que acabaram por atingir os 80 hectares.

Um processo, explicou “moroso e difícil”, já que foram compradas várias dezenas de parcelas a pequenos proprietários locais, num conjunto de terrenos compreendidos entre as localidades de São Lourenço do Bairro, Paredes do Bairro, Outeiro de Baixo, mas todos dentro de um raio de quatro quilómetros da adega que se encontra implantada na entrada da povoação de S.Lourenço do Bairro, concelho de Anadia.

O enólogo da adega, António Selas explicou ainda aos vários órgãos de comunicação social, que visitaram um dos pontos mais altos e de maior alcance da propriedade, que os vinhedos depois de arrancados e remodelados, os terrenos de acordo com a sua morfologia e perfil, obrigaram ainda à abertura de caminhos e drenagens de maneira a poderem ser plantadas vinhas modernas, de modo a que a sua condução pudesse ser o mais mecanizada possível.”

Ao longo dos últimos quatro anos, já foram replantados cerca de 60 hectares de vinha, estando os restantes em stand-by a aguardar o desenvolvimento daqueles durante mais dois ou três anos, para, conforme os dados recolhidos neste período e com o comportamento das castas já plantadas e conforme o perfil dos vinhos que a Adega pretende produzir, plantar então as castas que forem consideradas para esse efeito.

António Selas deu ainda a conhecer que, nos actuais 60 hectares, 90% das vinhas são ocupadas por castas tintas e apenas 10% por castas brancas. No entanto, as Colinas de São Lourenço podem, num futuro próximo, ir aumentar a percentagem das videiras brancas. O enólogo desta Sociedade Agrícola disse ainda que “destes 60 hectares foram replantados, desde 2001, cerca de 53 hectares sendo apenas sete de vinhas velhas (baga e bical).

Em matéria de castas, Colinas de São Lourenço apostaram nas castas nacionais (Baga e Touriga Nacional (que ocupam 15% cada no total do encepamento), Aragonez (Tinta Roriz), Alfrocheiro, Bastardo, Jaen e Tinta Barroca nas tintas, e Arinto nas brancas, sendo o Bical vinha velha. Já nas castas internacionais destacam-se os vinhedos com Merlot, Syrah, Pinot Noir e Cabernet Sauvignon nas tintas e Chardonnay, nas brancas.

Nova filosofia de vinificação

Na novíssima e moderna Adega já se vinifica a colheita de 2005 e projecta-se a ampliação deste espaço que deverá estar concluída aquando da vindima de 2007. Considerada a primeira compacta na Bairrada com uma filosofia de vinificação em que todas as transferências de trabalhos e massas e mostos são feitos por gravidade, aqui trabalha-se recorrendo ainda a tecnologia de ponta.

Embora a vindima seja manual, para caixas de 16 litros que são posteriormente transportadas em palete para a adega, a verdade é que a partir deste ponto o trabalho é muito mais técnico, recorrendo a tecnologia vária. Por exemplo, o arrefecimento de uvas é feito em câmaras frigoríficas ou através da aplicação de gelo seco. Durante a visita foi ainda possível ter um contacto com a secção de limpeza e triagem de cachos, desengace dos cachos, limpeza e escolha de bagos e detritos de bagos após desengace, esmagamento de bagos, transporte de massas vínicas por gravidade.

Na Adega as fermentações são efectuadas recorrendo ao controle de temperatura, frio e calor, com remontagens sem utilização de bombas através de silo e ponte rolante elevatória ou em fermentadores rotativos horizontais, em volumes até 8,5 toneladas, depósitos inox com controle de temperatura para fermentações dos brancos e roses, e câmara frigorífica também para fermentação de brancos em pequenos depósitos inox e em barricas, salientando-se ainda a existência de uma linha automática de enchimento e rotulagem com capacidade para 1500 garrafas/hora.

Durante a visita um dos locais visitados que, no futuro irá marcar a diferença foi, sem dúvida, a ampla sala de barricas para estágio dos vinhos. Com capacidade para 450 barricas de 225 litros (carvalho francês) em dois níveis e cave para estágio de vinho engarrafado”.

Embora estes espaços se encontrem ainda parcialmente vazios, é fácil imaginar como estarão daqui a meia dúzia de anos, com a empresa a funcionar a cem por cento.

Catarina Cerca

Os três primeiros vinhos

Colinas de São Lourenço, branco 2004

Chardonnay, 12,5% vol. Um vinho cujo processo de vinificação teve prensagem directa das uvas e fermentação parcial em barricas de carvalho francês.

Vinho com cor citrina, aroma frutado característico e enriquecido pelo tostado do carvalho. Vinho fresco, elegante e persistente na boca.

Colinas de São Lourenço, tinto 2003

Baga (40%), Touriga Nacionale Cabernet, com 13,5% vol. Um vinho cujo maceração clássica com fermentação a temperatura controlada e estágio, um ano, em barricas de carvalho francês.

Vinho cor rubi vermelha, aroma a fruta madura com notas abaunilhadas, na boca é macio, de bom corpo que persiste harmoniosamente.

Colinas de São Lourenço, tinto 2003 - “Privet Reserve” (para comercializar no Natal)

Baga (25%), Touriga Nacional (25%), Syrah (25%) e Cabernet (25%), com 13,5% vol.
Diário de Aveiro



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