O PAÍS VAI ENTRAR EM ELEIÇÕES AUTÁRQUICAS

O País vai entrar em eleições autárquicas na semana que agora começa.

São talvez as eleições mais importantes para o cidadão deste Portugal tão abandonado pelos políticos, pois elegem ou patrocinam os seus mais directos representantes políticos.

Por mais importante que seja, a figura nacional que apareça nestas alturas em campanha, o eleitor tem naturalmente o desejo ou sente o impulso de, esquecendo os partidos, dar o seu voto ao candidato que conhece da sua freguesia, ao candidato que sente mais próximo de si no seu concelho ou que cumprimenta na rua.

Nada disto é novo nesta campanha, nem será diferente das anteriores campanhas autárquicas.

As autarquias foram o sector da vida política nacional em que o cidadão mais viu evoluir o País desde o 25 de Abril. O poder autárquico revolucionou, para melhor, Portugal e, muitas vezes, foi o motor do desenvolvimento regional.

Mas, nos últimos tempos, Portugal é dominado pelos escândalos dos autarcas populistas que dominam os noticiários televisivos. Até parece que estas eleições autárquicas apenas se disputam em Felgueiras, no Marco de Canavezes, em Oeiras ou em Gondomar. Cada vez mais, os meios de comunicação social dão importância ao que, sendo de facto notícia, também só o é pelas razões mais aviltantes do bom-nome que deveria merecer cada uma das nossas terras.

Os casos de polícias, em cada um daqueles autarcas candidatos, se encontram envolvidos ou acusados não pode merecer tanta publicidade e propaganda barata. Um dos principais culpados do que sucede acaba por ser o próprio Estado Português pois não consegue pôr os tribunais a funcionar com a necessária rapidez e imparcialidade. Estes acontecimentos que se arrastam no tempo têm actores não só nos autarcas arguidos, mas também em muitos dos agentes da justiça nacional que aparecem a coberto do anonimato prestando as necessárias fugas de informação que alimentam estes folhetins. E desses, espero que não seja por nenhum interesse corporativo, não aparecem investigados, arguidos ou até culpados.

Que estado de direito é este que permite regressos triunfais a foragidos da justiça em prime-time televisivo? Que estado de direito é este que possibilita a candidatura de pessoas, que, embora não condenadas, têm indícios praticados suficientes para o ministério público as acusar?

Então, por um lado, a justiça é suficientemente lúcida para verificar dos incumprimentos dos cidadãos sejam eles autarcas ou não e por outro, como que desfazendo o que investiga, permite a sua glorificação em campanhas políticas.

E que povo é este que acarinha tais figuras? É reflexo do pior dos defeitos dos portugueses: os apregoados brandos costumes.

O puritanismo americano é também, se calhar exagerado, mas acho que, no mínimo, qualquer candidato deveria ter um cadastro sem manchas, as contribuições para os sistemas de segurança social em dia, os impostos pagos e um sistema que permitisse averiguar se era um daqueles enormes caloteiros que enxameia no nosso País.

Só depois seria candidato.
Diário de Aveiro



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