CUNHAS E CAMARTELOS

Aconselhado a não meter foice na política, vou estender a mão a outras searas, não menos férteis.

Falemos hoje de camartelos. O camartelo da câmara (ainda não chegou aqui a moda da implosão, para o nosso Sócrates simular o deflagrar, quando as paredes já estão todas a soltar poeira e estalidos...) está a ter algum trabalho.

Está praticamente no chão o estaleiro da autarquia, junto ao cemitério. Os mortos vão deixar de estar à sombra da câmara, que, nos últimos cinco anos, só revelou um génio, que, para ter mais tempo para aturados estudos sobre as sornas e sonoras galáxias inventou o mês de Fevereiro com 31 dias, gritando sempre contra quem o interrompia na proveitosa meditação: “o lugar é meu, o lugar é meu, é meuuuuuu”.

De início, o grande chefe não se apercebeu do alcance deste invento, achou mesmo piada. Afinal, sempre eram mais três dias que tinha de governação.

Quem não achou graça nenhuma foram as chefes de divisão, ficariam sem tempo para as compras, a vida familiar ou amorosa. Não podia ser. Insurgiram-se. O génio merecia o despedimento, coisa rara numa câmara. Pelo menos, é isso que corre na Praça Vermelha, onde se fala também de compadrios, que, depois, deram mau resultado. Sabe-se tudo neste recanto da cidade. Então, agora, em tempo de campanha, incendeiam-se as bocas, destapa-se o vinagre, solta-se o mau feitio... é uma vergonha. Como vergonha é a situação das escolas primárias da cidade, sem nenhumas condições . Velhas, de sessenta anos, pois já foi aqui que eu fiz o exame da quarta classe. Queixa-se a advogada, clama a funcionária pública, exalta-se a peixeira, todos sentem o problema, menos a câmara.

Bom, mas o que nos trouxe aqui, hoje, é, na verdade, o camartelo que vai actuar noutros locais. Até que, enfim, a câmara de Gala, em tempo de despedida, decidiu autorizar o derrube do “charuto” do prédio que fica por detrás do antigo ZIP-ZIP e encostado à Pastelaria Teresinha que eu não frequentava muito com medo que algum bicho saísse daquela lura infecta, e sobretudo porque tenho problemas de colesterol. Os que sofrem desta coisa chata, entendem-me. Não sou dos que bato muitas palmas às decisões do executivo de Gala, procuro entendê-las, tenho-lhe dado mesmo, no geral, o benefício da dúvida, mas, neste caso concreto, solto ambas as mãos. Já era sem tempo...

Abaixo vai também Zip-Zip.

O que deveria ir também abaixo é a casa velha, dos Patacos, rodeada de silvas, que fica do outro lado da avenida Abílio Pereira Pinto, em frente da Biblioteca Municipal. Como está, é uma nódoa na cidade, que se quer linda e airosa, a cheirar a urbanização actualizada e consentânea com o estatuto da nossa terra. Sabemos que é uma nota solta da antiga urbe, mas, por certo, já bastará guardar a antiga Casa da Câmara.

Pimenta de Oliveira
Diário de Aveiro



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