O governo completa praticamente seis meses de trabalho. É costume fazer balanços aos 3 meses, aos seis meses, ao ano etc. Não me interessam os balanços do deve e haver governativo, até porque nessas contas quem normalmente sai a perder é o povo e Portugal. Como em todos os governos, existem medidas que o senso comum aprova, leis boas e más, estratégias propagandeadas, mas que normalmente sem consequências práticas, e por muito que não gostemos e o bom senso desaprove, demasiados novos empregados, os chamados boys, a comerem do orçamento seis meses volvidos. È por isso entediaste fazer um balanço mas apesar disso arrisco. Para além da desastrada intervenção de Sócrates na gestão da catástrofe dos incêndios deste verão, e do rápido despacho “em grande velocidade” do anterior ministro das finanças, houve naturalmente alguns factos positivos. Realço a alteração do articulado que via num cidadão um vigarista à partida e não uma pessoa de bem por princípio. O ónus da prova passou novamente para a administração fiscal e essa foi uma medida abonatória e credível do Estado (ver editorial JB 1792). Outra medida estratégica, bastante positiva, é a introdução do inglês no primeiro ciclo escolar. Dará, se correctamente implementada, os seus frutos, daqui a uns anos. Confesso que um dos ministros que tenho gostado de ver actuar é o da agricultura. Mostrou-se sensato perante a calamidade dos fogos e firmemente determinado em fazer cumprir a lei nº que respeita à gestão florestal. Mas acho que falou cedo demais. Dei umas voltas pelas matas nacionais, aqui bem perto de nós, e acho que ele também o deveria fazer antes de começar a aplicar coimas ou castigos. Depois, vem o que realmente me preocupa: os sinais negativos deste governo. Passar uma imagem de inflexibilidade e dureza significa fazer perceber aos portugueses que a situação está difícil, mostrar o caminho e os obstáculos. Depois convencerem-nos que os sacrifícios são para todos e não sempre para os mesmos. O problema é que lei que aprovaram (em Setembro) sobre as reformas dos políticos, já deu para perceber que tem demasiados buracos e escapatórias para “dar a volta” e aumentar os rapazes da política. Sócrates parece ter substituído o diálogo paralisante do Eng Guterres pela incapacidade de ouvir e perceber as mágoas do povo. Não consegue passar ideias boas e justas, como a fusão dos sistemas de saúde dos militares num sistema único, sem arranjar uma trapalhada dos diabos com a instituição castrense. A medidamais importante para José Sócrates era baixar os preços dos medicamentos e lutar aniquilando o terrível grupo de pressão das farmácias. Passados seis meses, os medicamentos continuam a custar o mesmo, diminuíram as listas dos medicamentos comparticipados, e cedeu clamorosamente aos interesses dos hipermercados, que já nem precisam de um farmacêutico para cada estabelecimento. Basta um para cada cinco lojas. Luta-se contra uns, mas não a bem do povo ou da Nação, mas sim bajulando o império retalhista do novo magnata da dinamite e do espectáculo da implosão. Um outro sinal que custa apenas uns euros por ano às empresas revela a forma como o governo não quer cortar na despesa do Estado que badala e apregoa aos sete ventos. Inesperadamente, impôs uma taxa na conta da electricidade a todas as empresas para suprir as faltas de liquidez e orçamento para telenovelas da RTP e RDP. Simplesmente, perverso. Armazéns e lavandarias, vacarias e galinheiros, museus e piscinas, teatros e obras públicas, cerâmicas ou serralharias, todos passam a pagar a taxa em função do consumo eléctrico. Estou muito curioso sobre qual será a factura da EDP e sobre o que dirá a autoridade da concorrência às empresas de comunicação social como os jornais regionais (o JB) ou as televisões privadas por terem de sustentar a concorrência estatal que com eles concorre no mercado da publicidade.
António Granjeia* *Administrador do Jornal da BairradaDiário de Aveiro |