A campanha de 2005, na Bairrada, poderá traduzir-se num misto de agradável e desagradável surpresa. No momento em que as vindimas já se iniciaram na região - com a colheita das castas brancas - JB conversou com o professor Rogério de Castro, responsável por um estudo encomendado pela Comissão Vitivinícola da Bairrada (CVB). Projecto inédito, sem precedentes A equipa de peritos, conduzida pelo catedrático Rogério de Castro, acompanha, na região da Bairrada, nove campos experimentais (observatórios) seleccionados e que terão como principal objectivo “fornecer informação, mas também funcionar como observatórios”. Embora já trabalhe para a Bairrada vai para 17 anos, em projectos pontuais, Rogério de Castro é, agora, responsável por um projecto inédito, sem precedentes. Designado por “Plano de Acção para a Vitivinicultura Bairradina”, o estudo está a ser realizado sob a égide da Comissão Vitivinícola da Bairrada em ligação com a Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral (DRABL). Sobre este projecto, Rogério de Castro avançou que, “de uma forma geral, visa melhorar a viticultura da Bairrada”, ou seja, “saber que caminhos seguir e se haverá outros itinerários tecnológicos a considerar”. Embora tenha sido iniciado há dois anos, o docente admite que “o trabalho que está a ser feito é alvo de muitas críticas”, reconhecendo que, mesmo assim, “é necessário intervir e avançar”, até porque, como constatou, “neste momento, estamos a tentar encontrar pistas, criando modelos de condução - que até poderão vir a revelar-se catastróficos - , mas realizando sempre um trabalho de comparação com o que está a ser feito no respectivo local, na respectiva quinta e na região”. A JB também José Corte-Real, da CVB, avançou que “era necessário avançar com este estudo”, tanto mais que “se reconhece que, na Bairrada, algumas coisas não estão bem, sendo, por isso, necessário reflectir sobre algumas questões”. O alvo principal do estudo é, sem dúvida, a baga - a casta mais importante na região, a ocupar, presentemente, 90% dos vinhedos da Bairrada. “Repare que a baga é a casta mais cultivada na região e, quando é mal cultivada, mal trabalha ou colocada num mau local transforma-se numa péssima casta mas, quando é bem conduzida, bem trabalhada é uma excelente casta”, sublinhou, a JB, o catedrático para quem questões como a monda são bastante subjectivas: “A monda pode ser uma arma extraordinária, mas também pode ser a falência antecipada”, concluindo que “um indivíduo que tenha mercado e boa imagem pode fazê-lo, porque, tudo o que fizer vai ajudar a vender o vinho. É uma técnica para melhorar a qualidade, contudo é preciso que essa qualidade seja paga. Se assim for, vale a pena. Se não é paga, então, a monda é uma má opção. Eu também sou produtor e faço monda numas circunstâncias e não faço noutras”. De acordo com Rogério de Castro “a casta baga é um património da região mas não tem só virtudes e o nosso objectivo é dar um contributo para que a região encontre o itinerário certo, dentro dos seus objectivos e potencialidades”, acrescentando ainda que, durante este estudo, “para além de observarmos o que está instalado, procuramos também dar condições para que as plantas respondam, criando alternativas de condução da vinha, no sentido geral, e registando essas respostas/informações que a região, caso a caso, terá de saber aproveitar”. No caso concreto do trabalho realizado na condução da vinha, o docente universitário avançou ainda, a JB, que, “estamos a tentar introduzir alternativas que integrem aquilo que terá sido a boa vinha, na região, em termos de potencial de rendimento e qualidade, mas numa conjuntura actual”. Reconhecendo tratar-se de uma tarefa difícil e complexa, defende que “fomos buscar inspiração nas vinhas tradicionais e tentar introduzi-las de um modo sistematizado, ou seja, trazer as virtudes do passado, adaptando-as à conjuntura actual.” Rogério de Castro considera ainda que “a região tem de ser capaz de ter humildade suficiente para equacionar quais são as suas restrições e limitações, mas também quais são as suas potencialidades e objectivos, para então, humildemente, comunicar bem, seja cada um per si, seja com os outros.” VINDIMAS 2005 Este ano, como deve ser feita a vindima? Em ano anormal também terão de se ter alguns cuidados com a vindima. Neste momento, ou melhor dizendo, desde o passado dia 22 de Agosto, “qualquer região que se preze não pode ter nenhum técnico de férias”. Quem o afirmou foi o nosso interlocutor, preocupado com esta recta final em que “todos os cuidados serão poucos”, uma vez que “neste momento, o acompanhamento terá de ser diário para que o resultado final seja o desejado.” Para Rogério de Castro “a colheita depende, agora, da capacidade de selecção durante a vindima e da oportunidade de vindima.” Assim, recomenda como princípio fundamental a considerar “separar o trigo do joio”, ou seja, separar as uvas boas para vinho de qualidade, realizando, se possível, duas passagens na vinha. Investir mais ou menos na qualidade da vindima “Este ano, o viticultor não pode deixar de seleccionar as manchas de vinha, ou seja, vindimar no dia X para um lote; vindimar no dia Y para outro lote, seleccionando manchas de vinha”, admitiu, recomendando ainda, para os vinhos topo de gama, “uma escolha ou selecção por mancha e por cepa, com duas passagens na vinha”. Contudo, alerta, “existem vinhas e cepas que já deveriam ter os cachos todos no chão, pois estão a começar a morrer e já não têm uma única folha verde. Nessas cepas as uvas não valem nada e o viticultor deverá tentar salvar as cepas e não as uvas”. Relativamente à questão quantitativa considera que “embora as primeiras previsões feitas, na altura da floração, fossem muito favoráveis, acima da média, ao longo do ano, o potencial foi-se perdendo porque surgiram factores que vieram alterar as previsões iniciais”, admitindo que, neste momento, “estamos convictos de que não chegará à média da região”. Já qualitativamente defende que a campanha “vai ser do melhor e do pior”, avançando duas razões para tal. Do pior porque, “pontualmente, há uvas a mais, com folhas a menos. Uvas a mais pelo facto de não se ter feito a monda, mas, por outro lado, pela escassez de água e excesso de temperatura o que fará com que muitas uvas não vão ter qualidade.” Do melhor porque, “noutros locais, haverá uvas de muito boa qualidade”.
Catarina CercaDiário de Aveiro |