A má qualidade da batata, originada pela onda de calor, aliada ao baixo preço, está a obrigar centenas de agricultores de toda a Bairrada a deixarem nas terras a produção. Não há números oficiais que possam transmitir o que se está a passar no tocantes a este abandono pura e simples, no entanto, os casos abundam por toda a Bairrada e poderão representar 50 por cento da lavra. Traça estraga batatas Fernando Silva, gerente da Cooperativa Agrícola dos Lavradores do Concelho de Oliveira do Bairro (CALCOB), afirma que a própria cooperativa deixou ao abandono um batatal localizado nas proximidades de Aveiro, uma vez que as batatas estavam todas estragadas pela traça. O gerente da CALCOB sublinha que o panorama do sector da produção da batata não está bem e que têm que ser tomadas medidas urgentes para combater as dificuldades que os agricultores, sentem antes que seja tarde demais. Da mesma opinião comunga Afonso Libório, agricultor e presidente da direcção da CALCOB, que afirma que o sector da batata atravessa momentos de crise e poderá terminar num verdadeiro colapso. Para Afonso Libório, este ano, a produção poderá registar uma quebra de 50 por cento devido à conjugação da seca e do baixo preço. Explica ainda que “a produção é boa, mas como as batatas foram infectadas pela traça, devido à seca, obrigam os agricultores a deixá-las na terra”, sublinhando, entretanto, que “os dez cêntimos pagos por quilo não são suficientes para fazer face às despesas tidas pelos produtores em toda a fase da produção da batata”. Avançar para grandes áreas O presidente da direcção da CALCOB relembra que os batatais, que foram regados e devidamente tratados, tiveram uma boa produção, tanto em qualidade como em quantidade, mas mais, uma vez, se impõe o baixo preço. “Temos que avançar para grandes áreas de cultivo e totalmente mecanizadas para fazermos frente aos países europeus”, salienta Afonso Libório, que é da opinião que “o baixo preço da batata acaba por originar uma quebra na produção, já que muitos agricultores deixaram-na de produzir, o que obriga as cooperativas a importá-la de outros países”. Adianta ainda que a alteração dos hábitos alimentares dos portugueses tem contribuído para uma diminuição do consumo interno de batata. “Antigamente as refeições eram feitas, fundamentalmente, com batatas. Agora, a juventude quer é batatas fritas, na maior parte das vezes, feitas a partir de batata pré-frita importada”. Afonso Libório ainda se queixa da falta de apoios para o sector, lamentando-se, contudo, que a ausência de apoios esteja ligada à inexistência de um regime livre e à falta de organização dos produtores que inviabiliza qualquer auxílio. Melhor produção de sempre Por sua vez, Telmo Gomes, agricultor da Poutena, afirma que a sua produção foi a melhor de sempre e que apenas pode apontar o dedo ao baixo preço praticado no sector. “No início, os valores oscilaram nos cinco cêntimos por quilo e agora estão a pagar cerca de sete. Estes preços não cobrem os custos da arranca”, sublinha Telmo Gomes que recorda que “muitos agricultores deixaram nos terrenos as batatas que foram afectadas pela traça, logo após a onda de calor que também queimou algumas vinhas”.
Pedro Fontes da Costa pedro@jb.ptDiário de Aveiro |