Fumar mata”, “Os fumadores morrem prematuramente” ou “Fumar provoca cancro” são apenas algumas das advertências gerais encontradas nos maços de tabaco. Trata-se de mensagens que chocam os próprios fumadores, mas que não são suficientemente capazes de fazê-los abandonar o cigarro. “Se o vício não domina o Homem” e o tabaco é prejudicial à saúde, por quê continuar a fumar? “Cheguei a fumar dois maços por dia” “Foi o médico que me disse que, se eu quisesse viver mais uns anos, teria de deixar de fumar”, revela Carlos Alegre, de Anadia Assim que foi alertado pelo seu médico para que abandonasse o tabaco a bem da sua saúde, esqueceu, definitivamente, este vício. “Deixei, pura e simplesmente, de um dia para o outro. Na altura, nem acabei de fumar o maço de cigarros que tinha. Deitei-o fora”. Carlos Alegrefumou durante 15 anos. “Cheguei a fumar dois maços por dia”. Seguiu o conselho do médico e agora sente-se muito melhor no que respeita à saúde. Apesar de gostar de fumar, deu prioridade ao seu bem-estar físico e em nada se arrependeu. Este ex-fumador sente-se incomodado com o fumo dos outros “porque sei que me está a fazer mal”. Por várias vezes, em locais públicos, mudou-se de lugar para não se tornar num fumador passivo. “Há pessoas que fumam de uma forma exaustiva, parecem chaminés e isso incomoda à vista e à respiração”. Nos dias que correm, muito se tem falado sobre o tabaco. Não só por ser prejudicial à saúde mas também por questões económicas. As medidas implementadas recentemente pelo actual primeiro-ministro, José Sócrates, no sentido de “apertar o cinto” não excluem esta matéria. Até 2009, o preço do maço de tabaco terá um agravamento de 15% ao ano. No final da década, é previsível que um maço atinja os cinco euros e que cada cigarro custe 25 cêntimos. Se, para uns, este aumento dá que pensar e se coloca a hipótese de deixar de vez o vício, para outros, este acréscimo é pouco significativo, não impedindo a continuação de fumar. Serafim Silva, de Anadia, orgulha-se de dizer que já não fuma há quase 40 anos. Tal como Carlos Alegre, deixou de fumar por motivos de saúde. “Comecei a ficar rouco e o médico aconselhou-me a moderar o consumo de tabaco e eu deixei completamente”. Tem 73 anos e fumou durante 14 anos. Agora que deixou para trás este vício, “sinto-me muito melhor”. Serafim Silva considera que os jovens que hoje fumam, com o passar dos anos, “vão compreender que têm de deixar. Quando se é novo, é difícil perceber estas coisas”. “Julgava que era impossível deixar de fumar” “Eu até julgava que era impossível, custou-me a acreditar que conseguisse deixar mas foi verdade”. Domingos Araújo largou o consumo do tabaco, há cinco anos, mas “às vezes, ainda sinto vontade de fumar”. Passou 57 anos da sua vida apegado ao vício da nicotina. Tem 74 anos e fumou dos 12 aos 69. Para Domingos Araújo, fumar “era um prazer brutal”. Por dia, acendia cerca de 60 cigarros. Este deleite pelo tabaco caminhava pelo lado oposto à saúde. “Um dia estava na Costa Nova e comecei a sentir-me mal. Fui de ambulância para as urgências e o médico que me atendeu, recusou-se a tratar de um fumador”. O susto e as dores foram motivos suficientes para que Domingos Araújo prometesse que nunca mais voltaria a pegar num cigarro. Apesar de já se sentir melhor, “ainda sofro as consequências do tabaco”. “Eu ainda quero viver muitos anos” “Deixo de fumar quando quiser e me apetecer porque sempre tive força de vontade” - esta é uma afirmação de Justino Alegre, que fuma cerca de doze cigarros por dia. Começou a fumar com 25 anos e até hoje, com 66 anos, já tentou várias vezes deixar este vício mas, assim que surge uma dificuldade, “fumo logo. O tabaco não me resolve os problemas mas dá-me tranquilidade”. Justino Alegre, que assume que “já queimei muito”, não está minimamente preocupado com o aumento do preço do tabaco. “Isso a mim não me interessa, não é por isso que eu hei-de deixar de fumar quando me apetecer”. Contudo, recusa-se a comprar maços de tabaco que contenham a mensagem «Fumar mata». “É uma coisa que eu já sei e por isso não vale a pena. Eu ainda quero viver muitos anos”. A actual lei referente ao tabaco, que entrou em vigor, este ano, não proíbe o consumo de tabaco em locais públicos. Somente em “sítios de visita obrigatória”, como locais de trabalho, repartições públicas, escolas, unidades de saúde e transportes colectivos, se tem de obedecer a tal interdição. A versão inicial desta lei era mais rígida e restritiva na medida em que proibia o consumo de tabaco em locais públicos. O café “Área Jovem”, situado em Anadia, é muito frequentado por jovens devido à sua proximidade com a escola secundária. Luísa Simões, proprietária do estabelecimento, nunca fumou, mas é uma fumadora passiva. A experiência permite-lhe concluir que “hoje os jovens começam a fumar cada vez mais cedo. É uma forma de se afirmarem”. Não teme uma lei que proíba o consumo de tabaco em locais públicos e até é a favor da mesma, uma vez que o fumo a incomoda. “Talvez prejudicasse o negócio mas se fosse geral acho que as pessoas se habituavam e viriam na mesma”, refere a proprietária. “Os jovens fumam para estar «in»” “Os jovens fumam mais pela curiosidade e também pela convivência, é uma forma de estar «in»”, explica André Castanheira, de 19 anos. Está a estudar em Coimbra e desde que começou a dedicar-se ao futebol nunca mais pegou num cigarro. “Se fumasse, o esforço teria de ser maior. Teria menos resistência”. Apenas costumava fumar quando saía com os amigos ao fim-de-semana. “Fumava por estupidez. Toda a gente sabe que fumar faz mal e falta de informação não há”. Vários estudos revelaram que são menos os jovens que fumam regularmente muito embora sejam mais os que experimentam. Carlos Pina, de Famalicão, considera que os fumadores, nos locais públicos, deviam ter o seu próprio espaço, “para não nos obrigarem a fumar. Nós acabamos também por consumir grande percentagem da nicotina”. Tem 63 anos e apenas fumou quando esteve na Guiné. “Incomoda-me brutalmente alguém estar a fumar perto de mim. Começo logo a tossir”, confessa o não fumador. “Consigo deixar de fumar sozinha, só não sei quando” Laura Leitão tem 48 anos e fuma desde os 16. Já pensou várias vezes em despedir-se deste vício e “já estive um mês sem fumar mas depois surgiu uma série de problemas e voltei”. Apesar da recaída, tem a consciência de que o tabaco não é solução para qualquer obstáculo. “Tenho de deixar por mim, estou à espera de ter mais força”. Laura Leitão fuma cerca de 20 cigarros por dia mas afirma, com convicção, que “consigo deixar de fumar sozinha, só não sei quando. Pode ser daqui a 15 dias ou daqui a cinco minutos”. Tem uma filha que, desde que nasceu, a conheceu como fumadora. “Estou sempre a dizer à minha filha que o tabaco faz mal e que nunca experimente”. É caso para dizer, «olha para o que eu digo e não olhes para o que eu faço». No Centro de Saúde de Anadia, não existe um tratamento específico para pôr termo a este vício. Se a motivação pessoal não for suficiente para deixar de vez o tabaco, o fumador deve recorrer ao seu médico de família. Um psicólogo pode também ser a solução nos casos em que a dependência deste vício é considerada psicológica. Elevado preço dos medicamentos Maria Manuela, farmacêutica da Farmácia Termal da Curia, considera que “a principal razão pela qual as pessoas querem deixar de fumar é a saúde”. A maioria dos clientes que recorre a medicamentos para deixar de fumar, “quando chega aqui, já sabe o que quer por sugestão do médico”. Existem três variedades de medicamentos de cessação tabágica que não necessitam de receita médica. Os selos, que são discos cujo tamanho difere consoante o número de cigarros que a pessoa fuma, “são os que têm mais saída”, refere a responsável. Neste caso, o número de cigarros vai-se reduzindo, pouco a pouco. “Á medida que se diminui o consumo, diminui-se também o tamanho do disco”. Existe também um líquido que é colocado no cigarro e que absorve a nicotina. “A pessoa fuma mas, ao mesmo tempo, não está a consumir a nicotina”. Pastilhas elásticas são a solução mais económica. O medicamento mais barato ronda os oito euros e o mais caro ultrapassa os 65 euros. Os homens, entre os 30 e os 35 anos, são os que mais procuram ajuda para deixar de fumar e “os resultados têm tido êxito”. Contudo, “sem força de vontade não se consegue”. Maria Manuela tem notado que, ultimamente, alguns jovens, de 18/19 anos, têm também recorrido a estes tratamentos. “O vício não domina o Homem” “O vício não domina o Homem. Sozinho, deixo de fumar e não preciso de medicamentos”. Esta é a opinião de António Pinta que fuma há 45 anos. Considera-se “um fumador moderado, porque desde que fumo sempre fumei pouco”. Até à semana passada, era o responsável pelo café “Tropical’s”, na Curia. Fechou o negócio por falta de clientela e regressou para Souselas, onde mora. “Sei que, se não fumasse, estaria mais jovem e sentir-me-ia melhor”, explica o fumador. Já trabalhou no bar do Hospital José Luciano de Castro de Anadia e lá era proibido fumar. “Aqui o que me leva a fumar mais é o ócio, os tempos mortos. O cigarro é um companheiro, um mau companheiro”. António Pinta, filho de pais portugueses, nasceu no Brasil. “No Brasil, no meu tempo, começava-se a fumar muito cedo. À noite, ficávamos a conversar até tarde e o clima era propício a isso”. Os pais, que nunca acenderam um cigarro, sempre tiveram conhecimento deste vício mas, por respeito, nunca fumou na sua presença. António tem duas filhas e, “infelizmente”, as duas seguiram as pisadas do pai. “Tenho muita pena que as minhas filhas tenham começado a fumar”. Este fumador de longa data teme pela sua saúde. Tem 61 anos e nunca pensou em abandonar o cigarro até há bem pouco tempo atrás quando ouviu falar do aumento do tabaco, anunciado por José Sócrates. “Se este aumento ocorrer de facto, estou propenso a deixar de vez o tabaco”. Os fumadores têm em média menos dez anos de vida do que os não fumadores. As substâncias absorvidas pelo consumo de tabaco destroem alguns órgãos importantes ao mesmo tempo que fragilizam o organismo em relação a vírus e doenças oportunistas. 808208888 corresponde à Linha SOS - Deixar de fumar. Esta é uma outra forma de apoio para aqueles que pretendem pôr termo ao consumo de tabaco. Sílvia TorresDiário de Aveiro |