Os principais inspectores que conduziram a investigação do processo de peculato e falsificação de documentos que envolve o presidente da Câmara de Águeda, Castro Azevedo, o ex-deputado, Cruz Silva, e os irmãos Mateus, de São João da Madeira, confirmaram, ontem, ao colectivo de juízes, que durante as investigações nunca viram os tubos que Castro Azevedo afirma terem sido comprados. “Nunca vi os tubos” António Veiga, inspector da Polícia Judiciária de Aveiro, garantiu que, durante as investigações, nunca viu nenhum dos 24196 metros de tubo de PVC, fornecidos pela Arsol, de S. João da Madeira, à Câmara de Águeda e aos Serviços de Água e Saneamento de Águeda (SMASA). “Seguimos os rastos dos despachos do presidente, fomos aos armazéns da câmara, falámos com os presidentes das juntas de freguesias, fomos com os motoristas da Arsol ao local onde, alegadamente, descarregaram os tubos, mas nunca os vi”. António Veiga disse ainda estranhar o facto de ter sido feito o fornecimento de quilómetros de tubos sem que tivessem sido adquiridas as peças de ligação dos mesmos, e, por outro lado, não tenha havido o acompanhamento das obras pelos serviços técnicos. O inspector da PJ explicou ainda a forma como os pagamentos eram efectuados pela autarquia. Os cheques eram depositados na conta da Arsol e, depois, transferidos para contas particulares dos sócios da Arsol, seguindo-se algumas transferências para a conta de Cruz Silva. Já Morais Soares, inspector chefe da PJ, sublinhou que chegou a ir à freguesia de Agadão verificar a existência dos tubos constantes nas facturas e detectou que os tubos da Arsol se destinavam a saneamentos, e não a Águas. Tal como o seu colega, também disse nunca ter visto os tubos. Celso Cruzeiro centrou-se nas afirmações do inspector para garantir que “a PJ só foi investigar a pista dos despachos do presidente, mas não foram ver se as obra estavam ou não a decorrer”. Pinturas a mando do deputado A terminar a sessão, João Marques, electricista, como resposta à, alegada venda fictícia de 5200 litros de colas, 5120 litros de tinta e 640 litros de fixador, pela Unicola, empresa de que era sócio e gerente, o arguido António Cruz Silva, ex-deputado, garantiu ter andado a fazer pinturas em vários depósitos e estações elevatórias a mando do ex-deputado. “João Valente”, como é conhecido, e que foi arrolado como testemunha durante a segunda sessão do julgamento, enumerou, facilmente, todas as obras por si pintadas em 1999. Contudo, não conseguiu quantificar o tempo que gastou, ao longo de praticamente um ano, a pintar as obras. Explicou ainda que devia 1200 contos ao ex-deputado, 400 respeitantes a materiais que foram para a sua casa, e que acordaram o pagamento da dívida em troca de trabalho. Apesar do acordo, não conseguiu quantificar o tempo gasto em cada depósito, mas sublinhou que teria gasto cerca de 500 litros de tinta. João Valente afirmou ainda que nunca teve conhecimento de quem deixava os materiais nos depósitos para trabalhar, justificando que avisava com antecedência o ex-deputado da obra que seria pintada de seguida. Desembargador enaltece qualidades Júlio Paiva, juiz desembargador, testemunha de defesa, enalteceu as qualidades de Castro Azevedo, amigo de longa data, caracterizando-o como “um homem honesto, íntegro, e de boa fé”. No entanto, confessou que “não acompanhou o percurso autárquico de Castro Azevedo”, o que levou o procurador a questionar o desembargador se este tinha conhecimento que “Castro Azevedo tem uma condenação”, por negação à justiça, no âmbito de um processo de obras, clarificou, de seguida, Celso Cruzeiro, advogado de Castro Azevedo.Diário de Aveiro |