Quem faz da vida uma banalidade, nunca poderá ajudar outros a descobrir e a contemplar os horizontes novos, belos e libertadores, ao alcance de todos, quando educados correctamente, ou em processo de uma educação, harmónica, séria e digna. A educação é, frequentemente, tema de discussão na praça pública. Temos de nos interrogar porquê, dado que não há eco sem grito, nem barulho sem algo que o motive. Desta vez, e mais uma vez, é a educação sexual que se faz e se defende que provoca críticas, denúncia e movimentação. Educar é uma arte e um desafio apaixonante para todo o educador. Para o educando, é um processo crescente de dignificação, valorização abrangente, aprendizagem concreta de relações mútuas, integração assimilada de valores, desenvolvimento harmónico de dons e capacidades, naturais e adquiridos, que vão tendo investimento na vida real, até à responsabilização pessoal. Educar é dar alma à vida. Missão que exige uma inter relação, digna e respeitosa, entre educador e educando, e uma especial atenção ao ambiente de vida e de acção, porque também este tem uma função educativa. A informação cultural e a transmissão sistemática do saber escolar são sempre elementos integrantes e meios importantes que servem de suporte e de itinerário a um projecto educativo com sentido humano e social. A vida vai-nos ensinando que, na educação, o mais determinante são os educadores. Não é que recaia sobre eles uma responsabilidade absoluta, como é óbvio, pois só se pode dar quando há alguém disposto a receber. Está, porém, na mão do educador, quem quer que ele seja, contribuir, de modo singular, para a estruturação harmónica da pessoa e, por via desta, para a edificação de uma sociedade de gente nova e participativa. Os educadores têm de sentir-se vocacionados e preparados para a missão de educar. Não podem pensar que são mestres e sabedores incontestados. Há que saber lidar com um respeito sagrado pelos educandos, manter uma dignidade pessoal que os qualifique, estar dispostos a promover e cultivar parcerias com outros intervenientes no processo educativo, interiormente abertos para reconhecer e corrigir erros, disponíveis para reflectir e aprender com aqueles que são o seu cuidado diário. A educação sexual é necessária. Qualquer que seja a modalidade de ajuda, não cabe a mercenários, nem a grupos voltados para impor os modelos que justificam as suas opções de vida, estimulando outros a ir pelo mesmo caminho, nem meros informadores pessoalmente mal formados. Não se pode fazer à revelia de responsáveis que não se podem ignorar, como os pais ou os encarregados de educação, de valores culturais e éticos, de modelos que estimulam a crescer e a viver, com decoro, dignidade, senso e vergonha. De quando em quando, lá vem à luz do dia o que neste campo se vai fazendo na noite das distracções procuradas, consentidas e pagas. O que o Expresso informou e o que por aí se diz e se faz, neste campo, é em muitos casos, verdadeiramente grave. A sexualidade é um dinamismo fundamental da pessoa. Não se pode degradar. Há que ajudar a assumi-la e a integrá-la, porque não se trata de um instinto animal. Quando tudo é natural, dispensa-se a educação. Os animais sabem defender-se, as pessoas são educáveis, desde o ventre materno. Aí começa, naquela relação única de mãe - filho, a desenvolver-se a maravilha da vida relacional ou de ser-com-os-outros, para poder crescer e viver. Este processo acompanha-nos na vida, com base numa relação afectiva, crescente e consequente, que dá sentido à sexualidade, como valor superior assumido, no casamento, quando preparado com cuidado, no celibato, quando livremente aceite. Quem faz da vida uma banalidade, nunca poderá ajudar outros a descobrir e a contemplar os horizontes novos, belos e libertadores, ao alcance de todos, quando educados correctamente, ou em processo de uma educação, harmónica, séria e digna.
António Marcelino* *Bispo de AveiroDiário de Aveiro |