ESTUDO ACADÉMICO PROPÕE MEDIDAS PARA TRAVAR EROSÃO COSTEIRA

A costa aveirense tem recuado significativamente desde 1958, segundo um estudo da Universidade de Aveiro ontem divulgado e que defende a destruição dos esporões ou a recarga artificial das praias para contrariar a erosão.

Cristina Bernardes, uma especialista da Universidade de Aveiro na área da erosão, garante que "a principal conclusão não é animadora:

cada vez há menos sedimento disponível para ser transportado pelas correntes da deriva litoral, factor decisivo para o aumento da erosão na Costa de Aveiro".

"A tendência na zona de Aveiro é para uma erosão muito séria e continuação do recuo da linha da costa.Os rios trazem cada vez menos sedimentos até à foz", adverte Cristina Bernardes.

O rio Douro é o principal contribuinte em sedimentos para a zona, mas uma grande quantidade fica retida nas barragens, factor ao qual se associam as extracções de areias, refere o estudo.

De acordo com aquele trabalho científico, que resultou de uma década de investigação, "as correntes estão artificialmente desnutridas de sedimento e se não têm o que depositar, dissipam a sua energia na erosão das praias e das dunas".

Por outro lado, "os molhes do Porto de Aveiro, os esporões e enrocamentos acabam por ser armadilhas para o pouco sedimento disponível".

Para Cristina Bernardes, a tendência pode reverter-se, "havendo vontade política e condições económicas".

Algumas das soluções apontadas passam pela transferência artificial dos sedimentos do molhe Norte para o Sul ou pela destruição dos esporões, substituindo-os pela re-alimentação artificial das praias.

"Estas medidas têm os seus encargos, mas se avaliarmos os custos da construção de um esporão e a sua manutenção, acaba por ficar mais barato fazer a re-alimentação.Foi com esta opção que se recuperaram as praias da Costa Nova e da Barra nas décadas de 1970/80", exemplifica.

Cristina Bernardes não tem dúvidas de que "a tendência da erosão na nossa costa é para um aumento crescente".

"Um dos estudos por nós realizado recorreu à análise temporal de fotografias aéreas numa estação fotogramétrica, desde 1958 até 2002. Neste período, entre o Furadouro e a Praia de Mira, registámos nalguns pontos recuos de 230 metros correspondente a uma perda efectiva do sistema praia-duna e um recuo médio da linha de costa de seis metros por ano", salienta.

Cristina Bernardes é investigadora do grupo da Geologia Costeira do Centro de Estudos de Ambiente e Mar do Departamento de Geociências da Universidade de Aveiro, unidade de investigação que estuda o fenómeno da erosão desde Janeiro de 1996.

A elaboração de mapas de vulnerabilidade e de risco é o próximo desafio da equipa de investigação do Departamento de Geociências.
Diário de Aveiro



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