Os rapazes são melhores no raciocínio matemático, na filosofia e na leitura de mapas e as raparigas vêem melhor no escuro, têm mais habilidades verbais e maior persistência e capacidade de concentração, segundo um estudo do Instituto da Inteligência. O trabalho divulgado pelo Laboratório de Neuropsicologia e Investigação daquele instituto, a que a Agência Lusa teve acesso, indica que rapazes e raparigas têm habilidades e comportamentos distintos porque os cérebros feminino e masculino funcionam de maneira diferente. Segundo o estudo, as diferenças funcionais entre os cérebros masculino e feminino explicam porque é que apesar da cada vez mais rapazes e raparigas terem acesso a idêntica escolarização e educação, continuam a agir de maneira tão diferente. "Para além do tamanho (o cérebro do homem é cerca de 10 por cento maior), há distinções morfológicas, metabólicas e funcionais (nomeadamente na actividade neuroquímica e hormonal) que predispõem mais um do que outro para certas aptidões e habilidades", como o facto de as mulheres verem melhor no escuro e terem um repertório emocional mais amplo, que explica a sua maior sensibilidade para as relações humanas, indicam os responsáveis pelo estudo. As mais recentes descobertas "estão a caminho de provocar uma revolução no ensino", no sentido em que "o aproveitamento das habilidades naturais de cada sexo poderá ajudar a uma diversidade maior de competências e a melhores qualificações em áreas específicas", refere o neuropsicólogo Nelson Lima, presidente do Instituto de Inteligência. O especialista considera urgente uma reflexão sobre as diferenças que separam os alunos das alunas, para melhor se prevenirem os problemas disfuncionais, como a hiperactividade e a agressividade, e se aproveitarem as habilidades e talentos de cada um. Neste sentido, o estudo aponta algumas das diferenças mais perceptíveis observadas entre alunos e alunas do 1º e 2º ciclo. Os rapazes são melhores no raciocínio matemático e abstracto, na visualização tri-dimensional, nas ciências exactas, na visão de detalhe, na rapidez de dedução, na filosofia, a ler mapas e gráficos e são mais centrados na acção. As raparigas têm mais habilidades verbais, são melhores a ouvir e escutar com atenção, na orientação nocturna, na Lógica, no pensamento indutivo, na concentração, na capacidade de memória de curto prazo e na persistência em tarefas complexas. Para o neuropsicólogo, estas diferenças têm implicações na escola como a escolha dos lugares na sala de aula, devendo os rapazes ficar à frente, porque se distraem mais facilmente, e porque a sua percepção auditiva e capacidade de concentração são menores. Por outro lado, o ensino do português e de outras línguas é mais fácil para as raparigas, "devido ao facto de terem melhores hemisférios esquerdos, onde se localizam os centros de linguagem", o que "pode sugerir estratégias de ensino diferentes para cada sexo em vez da uniformidade de métodos que se observa actualmente". No domínio da disciplina, também há comportamentos diferentes, já que os rapazes são mais faladores, hiperactivos e conflituosos, enquanto as raparigas são mais discretas, controladas e estáveis no comportamento, o que se deve a uma "muito diferente actividade hormonal". Para fazer face a isto, Nelson Lima sugere "novas estratégias na educação de atitudes", que "podem auxiliar na criação de aulas menos perturbadas". à luz destas descobertas, o responsável considera que "um novo e promissor campo de estudo se abre aos agentes de ensino, aproximando os professores dos neurocientistas visando uma melhor escola". Neste sentido, o Instituto da Inteligência está a organizar acções de formação em escolas do 1º e 2º ciclo, bem como cursos para pais, a fim de transmitir estas e outras descobertas sobre as diferenças entre rapazes e raparigas no processo cognitivo e nos comportamentos.Diário de Aveiro |