CAOS NAS RUAS DE ROMA, MULTIDÃO CRESCE SEM FIM À VISTA

O caos instalou-se no centro de Roma e nos bairros limítrofes do Vaticano, com dezenas de ruas encerradas ao trânsito e centenas de milhares de pessoas a tentarem chegar à Basílica de S. Pedro.

A multidão, à espera há mais de 12 horas da oportunidade de passar alguns segundos junto do corpo de João Paulo II, na Basílica de São Pedro, continua a engrossar.

Dados do Vaticano indicam que, até ao final de terça-feira, já tinham passado pela Basílica um milhão de pessoas e mais de 600 mil estariam alinhadas, ou nas imediações do local, com muitos milhares de outros a continuar a chegar.

De todos os pontos de Roma, de autocarro e a pé, despejados aos milhares na estação Termini de comboios e no aeroporto da capital, dezenas de milhares de pessoas tentam, por todos os meios, chegar ao Vaticano.

Muitas, com mochilas às costas, tiveram de esperar longas horas por um comboio ou autocarro, para afinal não conseguirem alcançar mais do que os bairros em redor do Vaticano.

Depois, a pé, avançam, enchem passeios, espalham-se pelas avenidas e estradas.

Uma mulher pára, tira uma garrafa de água da mochila, encosta-se a uma vedação e mal tem tempo de meter a garrafa à boca quando a multidão a empurra e a força a continuar. Vêem-se carrinhos de bebé, crianças pela mão, idosos a apoiarem-se entre si ou a bengalas.

Grupos de turistas ou de congregações religiosas seguem um guia com um longo pau na mão no topo do qual atou uma pequena bandeira da empresa de turismo ou um lenço colorido que permita, a quem se perder, identificar os colegas viajantes.

Milhares de polícias nos principais cruzamentos tentam, como podem, controlar o trânsito que em Roma já é tradicionalmente complicado e que, desde hoje de manhã - e com tendência para se agravar nos próximos dois dias - já se tornou "praticamente impossível", como explica um taxista preso num cruzamento.

A situação continua a agravar-se. Soube-se, entretanto, que o período em que o corpo de João Paulo II estará em câmara ardente termina às 10:00 locais de quinta- feira (09:00 em Lisboa).

Com uma regularidade fora do normal - há 100 comboios adicionais por dia para a estação Termini em Roma - continuam a chegar peregrinos, turistas e curiosos.

Mais de 500 autocarros de passageiros chegaram a Roma, desde as 04:00 de hoje, agravando ainda mais o trânsito. Somem-se a isto as 90 viaturas especiais que estão a ligar Termini e o Vaticano e perceber-se-á por que motivo o trânsito "mal mexe" em várias zonas.

Esta é uma situação que as autoridades continuam a tentar explicar aos italianos com mensagens por SMS em que recomendam a quem quer vir prestar homenagem ao Papa que utilize transportes públicos e se prepare para "filas muito longas".

Outro problema é o calor. Há relatos de que milhares de pessoas já tiveram de receber assistência médica, devido a hipoglicemia, problemas de tensão, mal- estar ou desidratação.

"Há muitos bebés e idosos. As pessoas estão muito tempo de pé, sob o sol e têm quebras", explicou à Lusa Giacinta Pocci, dos Cavaleiros de Malta, uma das muitas estruturas que voluntariamente estabeleceram centros de apoio à multidão.

Carros privados deixarão de poder ter acesso ao certo da cidade talvez já a partir do final da tarde de quinta-feira quando chegarem os primeiros VIP+s internacionais. Depois, o cerco será totalmente fechado na sexta-feira, dia do funeral de João Paulo II.

Igualmente complicado é o alojamento, durante dois dias, de milhares de peregrinos e turistas.

As autoridades afirmam que hoje é já praticamente impossível encontrar qualquer quarto de hotel, a preços "razoáveis", num raio de 200 quilómetros de Roma.

Daí que mais de uma dezena de locais tenham sido preparados - com tendas, camas e apoio médico - em universidades, centros de congressos e no próprio Estádio Olímpico em Roma.

Na Universidade de Tor Vergata, por exemplo, espalham-se já amplas tendas azuis, capazes de acolher mais de 5.000 pessoas. A 20 quilómetros, uma nova cidade de tendas foi montada.

A julgar pela movimentação em direcção ao Vaticano, muitos não devem sequer recorrer a esses serviços, optando por não dormir ou encostando-se algures numa das ruas da zona, enquanto esperam para ver o corpo do Papa ou participar na missa fúnebre.
Diário de Aveiro



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