Não há mais tabus. Ou dúvidas - e algumas pairavam no ar. Acílio Gala não se recandidata à Câmara nas próximas eleições autárquicas. Para esta tomada de posição, não invoca cansaço, receios, falta de apoios, mas tão somente os 50 anos de serviço público, “em regime de dedicação exclusiva, dos quais 16 como presidente da Câmara”. Mas, na entrevista a JB, garante que pode não ser um adeus definitivo à política e aos seus direitos de cidadania. "Chegou a hora de dizer que é altura de deixar a vida autárquica" QUANDO É QUE O SENHOR SE DEFINE QUANTO À SUA RECANDIDATURA? Há muito tempo que já tinha tomado a decisão de não me recandidatar a um 5º mandato. Tive oportunidade de confidenciar esta decisão aos meus amigos mais próximos. Todos me disseram que não acreditavam. Agora, espero que acreditem. Não sou candidato a um 5º mandato. MAS TAMBÉM NÃO ESTÁ SUBJACENTE UM CERTO CANSAÇO, DESMOTIVAÇÃO, OU TALVEZ UM CERTO RECEIO DO DESGASTE DE UMA IMAGEM FORTE? Decorridos 4 mandatos autárquicos não me sinto cansado nem desmotivado e muito menos descontente com alguém. Mas decorridos também mais de 50 anos de serviço público, em regime de dedicação exclusiva, dos quais 16 como Presidente da Câmara, chegou a hora de dizer que é altura de deixar a vida autárquica. OU NÃO TINHA A CERTEZA DE VENCER? Quando nos candidatamos a decisão é sempre dos munícipes. Eu acredito no bom senso político dos munícipes e penso que eles ainda acreditam em mim. MAS VAI ABDICAR DA POLÍTICA E DOS SEUS DIREITOS DE CIDADANIA? Abdico da vida autárquica, mas não abdico dos meus direitos de cidadania, intervindo, politicamente, quando achar oportuno. SEMPRE AFIRMOU QUE SE RECANDIDATAVA PORQUE TINHA OBRAS EM CURSO? Ao longo da minha vida autárquica, sempre afirmei que fazia obras para as novas gerações e não para eleições. É muito estimulante começar projectos de raiz. Fazê-los crescer, acompanhar as suas execuções e saber que são úteis para a sociedade, foi o que sempre procurei fazer, com convicção e determinação e penso que com o mínimo de erros.
"Por haver eleições os trabalhos não podem parar" Ora o facto de, desde há muito tempo, ter decidido não me candidatar a um 5º mandato, não me inibiu, no entanto, de continuar a trabalhar e a decidir o que farei até ao último dia da minha presidência da Câmara, com a mesma convicção e determinação que sempre caracterizaram a minha acção. Há obras em curso e que ainda serão concluídas até ao fim do meu mandato, outras em fase de adjudicação e ainda outras em concurso que, naturalmente, só terão a sua conclusão no próximo mandato. Por haver eleições e necessariamente mudança de Presidente da Câmara, os trabalhos não podem parar, porque toda a estrutura orgânica e funcional da Câmara não vai mudar. Quem muda são apenas os gestores autárquicos que vão ter oportunidade de lançar novas obras. Que não lhes falte convicção, determinação e espírito de bem servir é o que desejo. MAS, AGORA, VAI DEIXAR ALGUMAS NO INÍCIO DO CAMINHO. HÁ IGUALMENTE PROJECTOS DE RAÍZ, COMO O MUSEU DA ETNOMÚSICA DO TROVISCAL, O MUSEU DA OLARIA, EM OLIVEIRA DO BAIRRO, A ESCOLA INTEGRADA DE OIÃ, O PALÁCIO DA JUSTIÇA E O CENTRO DE SAÚDE. É verdade e está de acordo com o que atrás já disse. O Museu de Etnomúsica da Bairrada ainda vai ser concluído até ao fim do meu mandato. No entanto, o Auditório do Troviscal está em fase de adjudicação e ainda deve iniciar-se, este ano, com uma previsão de conclusão para 2007. O Museu de Olaria e Grés é uma obra para mais do que um mandato. O projecto está em fase de conclusão e o concurso para construção vai ser preparado ainda no decorrer deste ano. A Escola Básica Integrada de Oiã fica concluída nos próximos 3 meses. Estão já em estudo os projectos da Piscina e Pavilhão. Quanto ao Palácio da Justiça e ao Centro de Saúde, são obras do Governo. A Câmara disponibilizou, em tempo oportuno, os terrenos em que investiu cerca de 275.000 €. Obras na grelha para próximos mandatos POR QUE NÃO AVANÇOU COM O PALÁCIO DA JUSTIÇA? O QUE FALHOU: VONTADE POLÍTICA OU APOIO GOVERNAMENTAL? Vontade e força política do Presidente da Câmara não faltaram. O que faltou foram os recursos financeiros do Orçamento de Estado. COM ESTAS OBRAS NA GRELHA, QUEM VIER A OCUPAR PROXIMAMENTE A CÂMARA, TERÁ NAS MÃOS OBRAS PARA REALIZAR DURANTE ANOS, COM A SUA MARCA. Quem vier a ocupar o lugar de Presidente da Câmara herdará todo o activo da Câmara bem como o passivo. Felizmente, o activo é muito superior ao passivo. SAI SATISFEITO COM O QUE, SOB O SEU COMANDO, FOI REALIZADO? A 6 meses do fim do meu 4º mandato, considero-me um Autarca satisfeito com as realizações que a Câmara executou sob a minha presidência. A essas realizações não esteve alheia a grande maioria dos munícipes, o que sinceramente agradeço. ACHA QUE OS MUNÍCIPES ESTIVERAM SEMPRE CONSIGO NAS OBRAS QUE FOI REALIZANDO? A maioria dos munícipes esteve sempre comigo. Acredito que alguns não estivessem de acordo, mas representaram apenas uma discordância comedida. E OS POLÍTICOS? Quanto aos políticos, alguns houve que, infelizmente, nas grandes obras, nem sempre estiveram de acordo, mas, mais tarde, acabaram por as aceitar e reconhecer a sua valia. "Não esquecerei as amizades" ALGUMA PALAVRA ESPECIAL PARA OS MUNÍCIPES NESTE ANUNCIAR DE UM ADEUS? A todos os munícipes de um modo geral, bem como a todos quantos trabalharam e ainda trabalham comigo, com lealdade funcional e profissionalismo, o meu primeiro obrigado. Eu não estou a anunciar um adeus aos munícipes, mas apenas uma ausência definitiva da gestão autárquica, a partir das próximas eleições. Não esquecerei as amizades que criei com todas as pessoas com quem tive oportunidade de trabalhar e contactar diariamente durante 16 anos e que sempre me receberam com respeito e estimulante cordialidade.
Armor Pires MotaDiário de Aveiro |