“A água doce é essencial para os ecossistemas saudáveis, o desenvolvimento sustentável e a própria sobrevivência humana. Contudo, demasiadas vezes e em demasiados lugares, a água é desperdiçada, contaminada ou considerada um dado adquirido. Em todo o mundo, a poluição, o consumo excessivo e uma gestão deficiente dos recursos hídricos estão a contribuir para a diminuição da quantidade e qualidade da água disponível. A agricultura, em particular, figura entre os responsáveis mais notórios por esta situação, na medida em que absorve a maior parte dos recursos de água doce, mas dá, frequentemente, provas de ineficiência em muitas das suas práticas habituais de utilização da água. A procura global de água aumenta já a um ritmo mais rápido do que o do crescimento demográfico. Se as actuais tendências se mantiverem, dois em cada três habitantes do planeta sofrerão de problemas - entre moderados e graves - de escassez de água, dentro de pouco mais de duas décadas.” Este é um excerto da mensagem do secretário-geral da ONU, Kofi Annan, por ocasião do dia mundial da água que se comemorou dia 22 de Março de 2005. Num ano de seca, estas palavras deveriam ter um efeito catalizador e permitir que usássemos este bem tão precioso com mais inteligência e regra. Talvez a secura deste ano possa ajudar-nos a reflectir melhor e mais profundamente sobre as nefastas consequências de vivermos numa terra sem água. É uma sina velha de séculos, mas só damos geralmente valor às coisas quando elas nos faltam. É o que está a acontecer com a água. Bastaram uns meses sem água e Portugal percebeu o que pode acontecer. Incêndios florestais em Fevereiro e Março, os pastos que desapareceram com a consequente morte dos animais ou o recurso às caras rações, a agricultura de regadio em completo colapso, o racionamento da distribuição quer na indústria quer no uso doméstico. Que fazer? Temos de tomar em nossas mãos o combate ao desperdício da água. Poupar e gerir deverão ser as acções mais importantes para melhorar a nossa dependência dum bem tão importante, que é de todos. Poupar significa estar atento aos gastos supérfluos e desnecessários e gerir designa introduzir mecanismos automáticos para racionar o uso da água. Se, no primeiro caso, só nos custa a atenção, que os portugueses também desperdiçam com fartura, no segundo, basta-nos investir em chuveiros e torneiras mais eficazes, introduzir a rega gota a gota nos jardins, etc. Para além de poupar água economizar-mos na conta dos serviços municipalizados. Se nada fizermos nãos nos podemos queixar do aumento da água. E o Estado ou o Governo o que vai fazer? O que sempre faz nestas alturas. Como disse um conhecido empresário, que agora não recordo o nome,”Portugal é o único País que resolve os problemas com mais uma lei”. Isso mesmo aconteceu recentemente com as multas do novo código da estrada. Combate-se a sinistralidade, aumentando as coimas, em vez de se colocar mais polícia na estrada ou arranjando as vias. Assim é mais fácil mais, barato e dá mais uns milhões. Com a água deve ser o mesmo. Já publicaram muitos regulamentos e decretos sobre estas temáticas, mas ainda não construíram, por exemplo, o sistema de regadio para dar uso à Barragem do Alqueva que demorou gerações a ser edificada. Mais perto de nós já lançaram concursos, decerto com defeito porque impugnados, para a construção da barragem de Ribeiradio em Sever do Vouga. Alguém já a visitou? Só no papel. Outro dia li uma referência absurda ao valor consumido em rupturas nas condutas de água de muitas Câmaras Municipais. Temos, pois, de ser mais atentos e sermos fiscais dos nossos governantes pois se depender apenas destes, o destino é a seca. Já é uma seca?
António Granjeia* *Administrador do Jornal da BairradaDiário de Aveiro |