ESTUDAR AS ELEIÇÕES

Compreender as eleições como um sinal do pensar da sociedade portuguesa obriga a um estudo sério do recente acto eleitoral. E como em democracia construtiva nunca interessará o poder pelo poder, mas sempre como serviço à mesma sociedade, então certamente existirão essenciais lições a retirar. Assim, estudar as movimentações das ideias, das filosofias e concepções de sociedade, do sentido crítico ou alienante, da cultura, coerência ou reacção e emoção, será certamente algo de essencial a perceber para sabermos ler melhor o futuro, e no presente formarmos com mais (cons)ciência.

Quando dizemos “estudar as eleições” falamos evidentemente muito para além de qualquer dimensão partidária (da vitória ou da derrota), interessa-nos o todo, adquirir uma visão da sociologia eleitoral que, da brancura ou abstenção ao voto na radicalização política manifesta desse modo, consciente ou inconscientemente, a sua liberdade.

Todavia, e antes que seja tarde de mais, possibilitando e formando a juventude para uma maturidade cívica e política (em que todos somos sempre aprendizes), talvez seja a hora de parar e avaliar, bem acima do factor-reacção, quais as tendências do futuro, da consciência ou não que o votante terá do programa em que aposta,? Como é evidente, e em todas as circunstâncias, em coerência, era depois o que faltava alguém manifestar-se contra medidas acordadas e votadas em plano!(?) No dia seguinte a cada acto eleitoral (bem acima das pessoas e figuras políticas) terá sempre cabimento uma séria interepretação dos sinais da sociedade e confrontá-los com a Verdade dos valores da Vida na consciência cultural do povo português. Sem conservadorismos nos acessórios, sem ilusões que descomprometam o empenho de todos na vida social, com a dignidade como pila fundamental.

A bem da juventude, futuros líderes de Portugal, talvez seja hora de ajudar a compreender que a saudável busca (feroz) de espaços políticos, o radicalismo (para atrair pela desresponsabilidade aliciante) não poderá justificar tudo. A este propósito que dizer da certeira ementa dada em campanha de partido em que na primeira parte do comício surge o concerto de Pedro Abrunhosa (bom músico mas já com o pré-discurso) e depois o demolidor líder partidário radical a dizer mal de tudo e todos e a desconstruir qualquer valor ainda existente?será este o futuro? Que querem os pais ou os avós de vidas com breves anos? Até onde pode ir este poder de atracção do fácil, aliciante, demagógico, desconstrutor, fragmentador, que denuncia o mal em todo o lado e agarra em muito na insatisfação social (que sempre existirá) e empática imaturidade de gente nova? Este caminho de tendência radical - onde pouco lugar haverá para o senso e o bom senso pois o que importa é a bandeira de que tudo está sempre mal - precisa de água na fervura para a não destruição de uma geração (?). É alarmante demais para que estes caminhos ganhem força crescente, pois neles (na sociológica incapacidade e inconsistência da família e da escola) estará a desagregação da própria sociedade num crescente individualismo, o que claramente nos diz que a democracia nunca é um fim em si mesma, é um meio possível para se gerir os princípios do colectivo. É por isso que a Verdade e Dignidade estarão sempre acima de todos os votos!

Mas, afinal, como despertar para a razão consciente os aliciados pela desconstrução? Enquanto é tempo, que lugar neste determinante processo das instâncias educativas aos variados níveis (do primário ao superior)? Como recriar - em tempos em que a filosofia é parente pobre - o fundamental espírito crítico humanístico de modo ao não embarque em tantos aliciantes? Que pensará o lutador na seriedade pai e avô quanto ao futuro pessoal do seu filho ou neto? Como renovar num sentido cívico positivo, atencioso, diário, de modo a que não seja a insatisfação e reacção a comandar a vida mas a ideia edificante?

Afinal, e como a educação é quase-tudo, ou conseguimos criar na sociedade um ambiente comunitário de bom senso (e orientamos a famosa liberdade nesse sentido) ou então perderemos quase-tudo. É por isso que neste contexto, estudar seriamente as movimentações das ideias e especialmente a juventude (que estuda ou trabalha) e tem receios mas aspirações quanto ao amanhã, será um importante serviço à própria democracia, ao nosso próprio futuro. É que ao cidadão, às vezes, preocupa o discurso político, pré-ou-pós-eleitoral, como se ele fosse um fim em si mesmo e menos um serviço de verdade à sociedade portuguesa. Existirão caminhos demagógicos a evitar, e caminhos de esperança a seguir; que estes sejam o desenvolvimento social de Portugal em ordem a melhor edificar o (tão exigente) bem comum. Este tem sempre a sua raiz na estrutura, as questões culturais e educativas que queremos para a comunidade nacional.

Alexandre Cruz*
*Centro Universitário de Fé e Cultura
Diário de Aveiro



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