Investigação da UA conclui que há uma ave a tirar benefícios das alterações climáticas.
É vulgarmente conhecido por maçarico-de-bico-direito, mas o nome vulgar oficial é milherango. Uma investigação recente da Universidade de Aveiro (UA) descobriu que esta ave migradora, comum em zonas húmidas portuguesas, como a Ria de Aveiro ou o Estuário do Tejo durante o inverno, tem vindo a beneficiar com as alterações climáticas.
A antecipação do período mais quente do ano, em latitudes elevadas, como no ártico, faz antecipar a época de postura, contribuindo para um aumento e expansão desta população.
Nos locais do norte da Europa, nomeadamente a Islândia, encontram-se os territórios eleitos por uma população de milherango para nidificação. Esta espécie de ave limícola (ocorre em zonas húmidas) migra para territórios mais a sul no inverno, sendo observada em estuários e zonas húmidas da Península Ibérica, como a Ria de Aveiro ou o Estuário do Tejo.
Um estudo coordenado por José Alves, investigador do Departamento de Biologia da UA e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM), descobriu que o aquecimento que se verifica nos territórios de nidificação, especialmente na Islândia, onde decorreu o estudo, e que está associado às alterações climáticas, tem provocado a antecipação das posturas desta espécie. Esse facto permite às crias mais tempo de preparação para as suas migrações, originando aumento do número de efetivos.
Os dados indicam que as temperaturas médias na Islândia veem aumentado desde 1845 e as primaveras com temperaturas acima da média têm sido cada vez mais frequentes em décadas recentes, explica José Alves. Os investigadores, puderam associar o crescimento populacional desta ave migradora, a colonização de novas áreas na Islândia e a distribuição durante a época não-reprodutora (Europa Ocidental), ao aquecimento que se tem vindo a sentir no seu país de origem.
No início do século XX esta população reproduzia-se numa área restrita na costa sudoeste da Islândia e estima-se que compreendia apenas 5000 indivíduos. O aumento da temperatura média desde então, permitiu aos indivíduos nestes locais produzir descendência cada vez com maior sucesso, colonizando progressivamente praticamente toda a área costeira do país. Os seus efetivos aumentaram para mais de 50.000 indivíduos, refere o investigador da UA.
O estudo, assinado ainda por Tómas Gunnarsson, William Sutherland, Peter Potts, Jennifer Gill, para além de José Alves, mereceu capa no número de março de 2019 do periódico científico “Ecology and Evolution”. Para além da UA, participaram no estudo as universidades da Islândia e as de East Anglia e Cambridge, ambas no Reino Unido.
O benefício retirado do aquecimento é, considera José Alves, algo expectável para uma população que se encontra no limite norte da sua área de distribuição e potencialmente limitada pelas baixas temperaturas que ocorrem a estas latitudes. Contudo, sublinha, tal não acontece em muitas outras espécies, cujos hábitos não se moldam tão rapidamente como por exemplo os dos insetos que lhes servem de alimento que dão de comer às suas crias. Devemos, por isso, continuar e aprofundar os esforços na redução das emissões de carbono e na minimização do aquecimento global.
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