O Município de Oliveira do Bairro vai prestar as justas e devidas homenagens aos militares do concelho que, um dia, tombaram, ao serviço da Pátria, nas picadas de Angola, nas bolanhas da Guiné, nos matos de Moçambique. Injustiçados Já, um dia, no remoto ano de 1925, foi prestada homenagem aos soldados que do concelho morreram na Grande Guerra, mas havia um envergonhado esquecimento relativamente aos combatentes do ex-Ultramar Português, como resultado de todas as diatribes que lhes foram movidas e todas as acusações e afrontas que lhes foram feitas, no tempo em que se andou cantando Abril, por muita gente amante de cassetes e casacas novas, ou viradas do avesso da noite para o dia. Então, ninguém foi tão enxovalhada como a tropa que cumpria ordens num tempo que se enquadrava num determinado perfil da visão histórica do mundo e dos acontecimentos. Alguns mais acalorados o menos que lhes chamaram foi “assassinos” ou “matadores de pretos”, faltando ao respeito ao seus sentimentos, ao amargor de suas lágrimas, às dores suadas do fundo em todos os combates. O país começou a viver o trauma, o complexo descabido de uma guerra colonial, envergonhado de quem lutou e deu, por vezes, a vida pela Pátria de que esses mesmos se envergonhavam. Por isso, muito tempo levou a que os combatentes mortos em terras de África fossem recordados num mural em Belém. No entanto, pela província, aqui e ali, foram erguidos monumentos, sem complexos, mas com honra e dignidade. Além disso, custoso foi reconhecer-lhes os sacrifícios, as feridas, as cicatrizes, os traumas. Portugal pagou-lhes (e paga ainda em muitos casos,) o esforço com ingratidão e verdadeiro desprezo, enquanto os que fugiram para Paris, Argel, ou outras partes, não só foram promovidos a heróis, foram condecorados e usufruíram de benesses. Perspectiva mais abrangente Faltava o Município de Oliveira do Bairro prestar também a homenagem que poderia perfilar-se em lápide, agregada ao monumento existente na Praça da República, solução que foi ventilada por alguns políticos. Todavia, o presidente da Câmara, com aprovação do seu executivo, optou por uma outra solução, mais condizente com o valor da vida perdida e com o esforço dispendido por todos quantos, um dia, tiveram essa ingrata missão de combater em África, em manhãs de sangue e noites de insónias e balas perdidas. Para os que tombaram será uma maneira de os “libertar da morte”, (para utilizar um verso de Camões), que lhes quiseram dar de novo, esquecendo-os de forma premeditada e cínica. E a câmara vai fazê-lo noutra perspectiva, mais abrangente e universalista. Associou ao esforço e empenho dos combatentes o esforço e empenhode quantos, como civis, serviram o país nas terras longe, tanto em cargos administrativos, como nas roças e matos, semeando desenvolvimento e laços de amizade. Enfim, “ a todas as pessoas que no Ultramar se sacrificaram pelo ideal de uma comunidade mais fraterna” Do município de Oliveira do Bairro foram muitas as pessoas que “emigraram” para Angola, Moçambique (quase nada para a Guiné) e, com este monumento, as suas memórias, que devem honrar a memória colectiva, ficarão ali gravadas também para sempre. Na parte norte da avenida O monumento, que vai custar tanto como 25.841, 49 euros, tem a assinatura da arquitecta, Ana Maria Parente, do GAT de Águeda, a responsável pelos projectos dos Paços do Concelho e da Biblioteca e irá ser implementado no topo norte da Avenida Abílio Pereira Pinto, numa área bastante desafogada de modo a dar-lhe outra ambiência e amplitude . Será mais uma peça de arte a enriquecer não só aquele espaço da cidade, mas também o parco património arquitectónico do concelho. Ainda não está traçado o programa, mas JB sabe que a inauguração está marcada para o dia 25 de Abril do corrente ano. As obras de preparação do espaço e construção da base do monumento continuam, aprovadas que foram, por unanimidade, pelo executivo camarário, na reunião de 25 de Janeiro do corrente. Duas faces - a mesma honra A escultura tem duas faces: uma, com versos de Camões e os nomes dos combatentes mortos: a outra, igualmente com versos do mesmo poeta e a esfera armilar e com a dedicatória Cândido Martins de Jesus, soldado - 1961.04.13 (Angola) Arlindo dos Santos Cardoso, 1º. cabo - 1965.01-05 (Guiné) Daniel de Jesus, soldado - 1967.01.06 (Moçambique) Pompílio Santiago Graça, soldado, 1970.11.06 (Guiné) Nelsonn Joaquim A. P. Soares, alferes - 1971.10.26 (Guiné) Óscar de Oliveira Gala, furriel - 1974.01.30 (Moçambique) “ a todas as pessoas que no Ultramar se sacrificaram pelo ideal de uma comunidade mais fraterna”Diário de Aveiro |