O dirigente do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã defendeu., ontem, que os resíduos perigosos devem ser reciclados até ao limite do possível e que o restante deve ser depositado num aterro "muito controlado". Em plena cidade palco da polémica da co-incineração, o cabeça de lista do BE por Lisboa recordou que "mais de 95 por cento dos resíduos perigosos são recicláveis". "A questão que tanto se discute corresponde apenas aos restantes três ou quatro por cento. O BE defende um aterro muito controlado, mas está aberto a outras propostas. A única que rejeitamos liminarmente é a da exportação para um qualquer país africano desesperado", acrescentou. Quanto à co-incineração, é "um negócio com que o BE quer acabar", disse Louçã, explicando que se trata de um negócios porque permite às cimenteiras um potencial energético imenso - os óleos usados - que ainda serão alvo de um pagamento pelo Estado. "José Sócrates quis fazer da co-incineração uma prova da sua autoridade, como meio de demarcação em relação a António Guterres e aos seus avanços e recuos. É mais uma questão de feitio do que política", afirmou. Francisco Louçã defendeu ainda que os produtos comercializados nas mais diversas áreas deveriam apenas utilizar materiais recicláveis, de modo a que, a prazo, "não aconteça o que se passou com o amianto, usado durante anos nas habitações e que teve de ser retirado quando se descobriu que era cancerígeno". O dirigente do BE falava aos jornalistas no final da primeira "arruada" do Bloco nesta campanha, que atravessou as ruas do "casco" velho de Coimbra ao som de gaitas de foles, tambores e acordeões. Uma "arruada" é um conceito criado pelo BE - mas ultimamente pouco usado na campanha nacional do partido - que mistura saltimbancos e música tradicional de modo a animar a passagem da comitiva e atrair os populares. Depois de Luís Fazenda se ter juntado a Louçã na quarta-feira, hoje foi a vez de Ana Drago convergir com a comitiva nacional do BE, completando assim um trio cuja separação nas últimas semanas já levantava dúvidas sobre o real estado da unidade dentro do partido. Coimbra acolheu bem Louçã, que tinha tido pouco antes, em Aveiro, um dos momentos mais pobres da sua campanha - uma distribuição de propaganda que pouca atenção mereceu por parte dos transeuntes, excepto de umas crianças que, num autocarro escolar, gritaram entusiasmadas: "olha o Paulo Portas!". Um dos poucos populares com quem o dirigente bloquista conseguiu travar conversa deixou claro que ia votar PSD, até porque a câmara local, de maioria PS, tinha feito uma "péssima passagem de ano". Bem que a veia pedagógica de Louçã tentou explicar ao homem que "o Carnaval é só um dia, nos outros 364 é preciso olhar para os problemas de frente", mas a sua conhecida capacidade oratória não chegou para o convencer. Apesar de tudo isto, Louçã mostrou-se convicto de que o BE vai ter "uma subida espectacular em Aveiro". Poucas horas depois de, numa entrevista à TSF, José Sócrates ter garantido que não iria privatizar centros de saúde nem hospitais - optando pela solução das empresa públicas - Louçã voltou a criticar o líder socialista por este querer entregar as unidades de saúde aos privados. "Ainda hoje estive numa empresa que ia despedir 500 trabalhadores para deslocalizar uma linha de produção. José Sócrates terá de explicar como se gere um hospital assim".Diário de Aveiro |