A cantora de jazz Jacinta conclui o doutoramento e depois das provas prestadas na Universidade do Minho publicou uma carta aberta em que revela desagrado pela forma como o processo foi gerido na Universidade de Aveiro.
Um percurso que retrata como desgastante feito de barreiras e limitações e em que a área de estudo desejada esteve quase sempre vedada. A história de um doutoramento que começa em Aveiro e acaba no Minho.
Este percurso da cantora e professora da Gafanha da Nazaré começou há seis anos depois de vários anos a viver “exclusivamente de e para os concertos” quando concorreu ao Doutoramento em Música, tendo sido seriada em 3º lugar, num processo que incluiu a análise curricular, um ensaio escrito e ainda um recital de Jazz com a pianista Michele Ribeiro.
Revela que o primeiro ano curricular estava mais ligado ao campo da teoria que cumpriu mas que não era exatamente o que sonhava. Pediu à UA um co-orientador que conhecesse a linguagem do jazz performativo e o pianista Abe Rabade foi a escolha.
“ Desloquei-me a Santiago de Compostela apenas duas vezes para receber orientação, já que não havia meios de custear as vindas do professor a Aveiro... assim ficou... foram apenas dois encontros lá e um terceiro encontro cá, em Aveiro, na Universidade, a que se seguiu um segundo recital”, revela Jacinta.
Depois da apresentação feita não voltou a ter essa orientação uma vez que “não havia disponibilidade de verba por parte do curso”.
No regresso às questões teóricas, Jacinta não esconde que chocavam com o interesse na performance em jazz e assume que não teve quem a acompanhasse no aprofundamento dos interesses em Jazz.
Assume ter-se visto obrigada a submeter um projeto de tese com o qual não concordava na totalidade mas que cumpria por garantia de abertura para redirecionar especificamente para a sua área de interesses. Algo que não viria a confirmar-se, segundo a própria investigadora.
“E na verdade, foi assim que tudo começou a entrar numa outra história, onde provei o amargor do poder académico na sua versão mais dura e autocrática: insistindo eu em fazer um doutoramento em performance em Jazz a única resposta que passei a obter é que eu, enquanto doutoranda, estava presa a um projeto que, afinal, não podia ser alterado (quando a prática generalizada de investigação em qualquer universidade, portuguesa ou estrangeira, e mesmo noutros departamentos da UA, é a de que os alunos comecem por um projeto que é apenas um ponto de partida, para em seguida, sobretudo após uma revisão de literatura mais aprofundada, descobrirem possibilidades de diversificação da sua investigação)”.
Lamenta que não tenha havido flexibilidade para ajustar a investigação nem para a mudança para o Doutoramento em Estudos Culturais e admite que chegou a desanimar por ver portas a fecharem.
Com pares no apoio, decidiu candidatar-se ao grau de doutora, com uma tese auto-proposta, ao Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, no Programa Doutoral em Estudos Culturais, no final de 2017.
Depois da defesa da tese e de ter recebido a nota máxima existente na Universidade do Minho (muito bom), Jacinta finaliza um processo em celebração mas sem esquecer o caminho e dando conta dessa “aventura” numa carta aberta.
“A vida segue e eu seguirei com a minha determinação, os meus intentos e desejos, aos quais não posso deixar de ser fiel. De qualquer modo, seja qual for a vertente da minha atividade – cantora, professora ou investigadora - eles nunca deixarão de passar pela música e pelo Jazz”, conclui a investigadora da Gafanha da Nazaré revelada ao país no programa “Chuva de Estrelas” e que tem desenvolvido carreira profissional e académica no Brasil e em Portugal.
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